Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

A Cura das Feridas Ancestrais
Sincronicidade, a linguagem do universo. O fenômeno da transmissão, que se dá no campo da graça. O processo do despertar envolve uma reprogramação celular. Como lidar com a matriz psicológica do medo. Trabalhando com os conteúdos sutis e o trânsito do medo para a confiança. Soltar o orgulho e a obstinação, dois grandes aliados do medo. O perdão e o desapego do papel da vítima. O uso distorcido do poder da vontade. A obstinação alimenta o pacto de vingança. Masoquismo, o prazer negativamente orientado. Negação do prazer. A coragem para romper com a mente do ego, ser livre como a brisa e dar passagem para a gratidão.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
10/3/2017

Sri Prem Baba: Convido-o a fechar os olhos e se recolher na calma do seu coração por um instante. Respire suave e profundamente pelas narinas, e a cada inspiração permita-se esvaziar de toda expectativa. Relaxe no momento presente, de onde você simplesmente testemunha o fluxo daquilo que é impermanente, sem julgar ou criticar. Quando quiser, lentamente abra os olhos. 

O barulho do motor é representativo da intensidade com que o trabalho está acontecendo. Mas estamos entrando na fase final da nossa temporada, vamos precisar começar a desacelerar, desligar alguns motores para que seja mais fácil a reentrada na matrix. 

Compreende quando eu digo que não existe coincidência? A linguagem do universo é a sincronicidade. Dentro de um campo de prece a sincronicidade fica mais evidente porque você está mais presente, sua percepção está mais ampliada e, então, é mais fácil compreender a linguagem dos sinais. Mas esses sinais estão se manifestando o tempo todo na sua vida, embora nem sempre seja possível percebê-los. A separação é somente uma ilusão, não tem existência real, está tudo conectado. 

Para iniciar esse desaceleramento ainda vamos fazer a prática da tarde, amanhã vamos fazer uma sessão de cânticos, cantar alguns hinos. No dia seguinte vai ter a apresentação do Mohan e do Suri, e aí a gente fecha o trabalho da tarde. Depois vai ter o Holi, e aí mais dois satsangs pela manhã para completar esse ciclo de transmissões. 

A transmissão a que me refiro é o fenômeno que se dá dentro desse campo de prece. É o trabalho espiritual que eu ofereço. No plano da forma nós nos sentamos juntos e às vezes algumas palavras surgem em resposta a algumas perguntas. Isso vai movimentando a energia, que vai atuando nos seus corpos com o objetivo de desprogramar as impressões negativas que foram se acumulando ao longo da existência. Essa energia é expandida e oferecida, vai lavando o seu coração e dissolvendo as capas que encobrem a verdade de quem é você. Portanto, é verdadeiro dizer que o trabalho se dá no campo da graça, um fenômeno que se dá além da mente, por mais importante que seja o conhecimento transmitido. Transitamos entre o caminho da meditação e o caminho do amor. O caminho da meditação inclui o autoconhecimento e a autoinvestigação, mas é permeado pela devoção. Isso vai produzindo ondas de energia luminosa que vão dissolvendo a escuridão. Esse processo, muitas vezes, provoca reações. O conhecimento vem até mesmo para te ajudar a lidar com essas reações, para te instruir, te dar referências para que você possa se acalmar e até utilizar esse conhecimento para se mover. Esse conhecimento é que vai aos poucos possibilitando a chegada da compreensão. 

Você diz assim:

Pergunta: Querido Baba, ontem tive febre, e quando você entrou no satsang quase desmaiei. Sinto que uma resolução está acontecendo no meu corpo, como se as coisas estivessem mudando de lugar. Ontem tive que encarar alguns medos. O medo é minha barreira para meu amor incondicional. Como posso trabalhar o medo em mim? Talvez eu ainda não tenha confiança suficiente em mim. Mesmo tendo essa consciência, ele ainda me domina.

Prem Baba: Essa declaração contém muitas coisas. Uma delas é a lembrança de que o processo do despertar envolve o corpo. O descondicionamento envolve o corpo, especialmente seu sistema nervoso e, consequentemente, o seu sistema endócrino. Por isso tenho sugerido também alguns trabalhos corporais para auxiliar nessa reestruturação que além de mental e emocional, é também física. Aos poucos se faz necessário que seu sistema, como um todo, possa dar passagem para o amor, porque faz muito tempo que suas células vibram na frequência do medo e do ódio. O despertar envolve uma reprogramação celular. Alguns trabalhos corporais, e por trabalhos corporais eu incluo respiração, funcionam mais do que outros para um ou para outro. Mas de uma forma geral tenho sugerido asanas, bioenergética e alguns pranayamas para ajudar nessa reprogramação celular. 

Como lidar com os conteúdos sutis que emergem? Há diferentes maneiras. Às vezes você precisa olhar de frente para um eu inferior para poder investigá-lo, fazer as relações de causa e efeito e lidar com os sentimentos envolvidos, até que consiga se desidentificar e perceber a natureza ilusória do eu inferior. Como alguém trouxe no satsang de ontem, dizendo que realizou que o eu inferior não tem existência real, porque tem a qualidade da escuridão, que é a ausência da luz. Quando a luz do Ser se manifestou, o eu inferior desapareceu. Então, às vezes para você chegar nesse estágio de lucidez, você precisa passar pelo enfrentamento, precisa olhar de frente para esses "eus". E às vezes você precisa olhar de lado, porque se olhar de frente talvez fique muito difícil pra você. 

O medo é uma matriz psicológica que não é qualquer coisa. Há medos e medos. Há um medo que você consegue olhar de frente, consegue seguir adiante mesmo tremendo da cabeça aos pés. Mas há medos que se você olhar de frente, eles te paralisam. Então nesse caso, minha sugestão é você olhar para o medo, mas dar força para a confiança. Não tenha pressa de se desidentificar desse medo, sabe-se lá há quanto tempo esse medo está no comando da sua personalidade. Talvez esteja durante toda a sua vida, e às vezes está com você há muitas vidas. Então, nessa hora lembre-se de respirar, olhar para medo, mas não dar alimento para ele, e dar força para a confiança. Especialmente quando se tratar desses medos mais profundos, como o medo da morte e do aniquilamento, que é o medo de desaparecer. Sugiro não bater de frente. Ele está aqui, por aqui, ok. Mas olhe para a confiança, porque a confiança é a luz que vai dissolvendo a escuridão do medo. Mesmo que você esteja consciente de que esse medo seja a sua última barreira, é verdade que essa barreira está protegendo sentimentos, às vezes memórias. Mas você só vai descer nesse abismo de sentimentos e memórias se você estiver suficientemente maduro. Se isso está chegando para você, significa que você está se tornando maduro. 

Ao mesmo tempo, você não pode controlar essa descida ao abismo dos sentimentos, porque se você controlar, não vai conseguir atravessar. E exatamente por isso você está com medo, porque você não controla, você passa por uma zona de loucura, uma zona que está além do ego. Você atravessa uma tremenda fragilidade, onde você não tem a vida nas suas mãos. Você pode desmaiar. O que é o desmaio? Sair do controle, desmaiar é um símbolo. Nem sempre a pessoa precisa desmaiar, às vezes ela sai do controle acordada. Mas é comum o desmaio ao sair do controle, e é natural que às vezes tenha reações físicas, como febre, às vezes gripe ou outras reações. Algumas pessoas acreditam que é porque estão aqui na Índia e comeram alguma coisa que não estava pura ou limpa, mas eu vejo isso acontecer em qualquer lugar que eu abro um trabalho. Acontece em Alto do Paraíso, em Nazaré, em Mawi, em Boulder, em qualquer canto. Eu quero dizer que às vezes não é realmente uma interferência externa, e às vezes pode ser uma interferência do clima ou de uma bactéria, pode ser também. 

Como acabamos de perceber, não existe coincidência, está tudo conectado, tudo está a serviço desse processo de descondicionamento, de despertar. Então, muitas vezes esse sintoma está sendo provocado por diferentes vetores, mas com o objetivo de reprogramar o seu sistema. Mas é claro que, se chegou no físico e está provocando uma doença, às vezes precisa também de um tratamento físico, e não descarto a possibilidade de tomar remédio. A gente procura sempre tratar do sutil para o denso. Se você está atravessando uma ponte dentro de você, especialmente essa ponte do medo para a confiança, e está tendo que lidar com sentimentos guardados que estão provocando reações no seu corpo físico, então é muito bom a gente poder ajudar com trabalho corporal, com respiração, às vezes com homeopatia. E às vezes não é suficiente, às vezes não temos condição de oferecer esse trabalho de apoio, porque temos limitações aqui. Então precisamos atenuar os sintomas com medicinas um pouco mais densas. Aí vamos para fitoterapia, ayurveda e, em últimos casos, vamos para a alopatia também, mesmo que tenhamos que interromper o processo, porque temos que ter bom senso de saber até onde a gente consegue ir. Se o sofrimento está demais, então isso precisa ser aliviado. 

O sofrimento não é uma condição para o processo. Às vezes ele é inevitável, mas todo sofrimento desnecessário temos que remover do caminho, e deixar aquele que não tem jeito mesmo. Por exemplo, o sofrimento da própria atuação do medo, não tem como evitar. Tem que passar por ele, mas está indo, está atravessando. Quando você está nessa esfera do trabalho, que é a autotransformação, porque está lidando com a natureza inferior, é importante saber que, por exemplo, o medo nunca está sozinho. Nunca. Ele tem no mínimo dois grandes companheiros: o orgulho e a obstinação. Às vezes saber disso pode ajudar você em alguns casos. Por exemplo:

Pergunta: Querido Baba, meu orgulho é intolerável. Eu sou um perfeccionista dos piores, porque eu estou tão, mas tão longe de ser perfeito! Isso significa que me sinto um fracasso constantemente, sempre falhando em atingir os altos e inatingíveis níveis da minha própria exigência. Eu, muitas vezes, não vou atrás dos meus desejos nem das minhas metas, porque penso que já não sou capaz de cumpri-las perfeitamente. Não vale a pena fazer nada. Eu sinto que é melhor ser aquele que poderia ter sido, do que tentar e ser imperfeito.

Prem Baba: Então aqui é uma fotografia de um aspecto do orgulho, que é a autoimagem idealizada. Não importa com qual aspecto do orgulho estamos trabalhando, você sempre vai ver o medo e a obstinação juntos, sempre. Você vai precisar desse conhecimento para se mover. Por exemplo, quando você está lidando com o medo, talvez o que esteja te impedindo de ir além do medo seja o orgulho, e quando você está lidando com o orgulho talvez o que esteja te impedindo de seguir adiante seja o medo, e assim por diante. Então tem uma obstinação aqui, tem a obstinação, tem o medo, tem o orgulho e você vai precisar identificar qual desses aspectos permite que você consiga ir adiante, que te permite quebrar o círculo vicioso. Por exemplo:

Pergunta: Querido mestre, ontem você falou sobre perdão e esse assunto é delicado para mim. Meu pai foi morto a tiros e eu sinto raiva profunda pelo assassino. Enquanto você falava, me veio o pensamento: “Eu não quero perdoar”. Seria o perdão um desapego do papel da vítima? É minha identificação com a menina abandonada na infância que me impede de perdoar, tanto meu pai quanto o assassino? Se sim, como desfazer esse nó? Às vezes sinto que minha mente e meu coração processam as coisas em velocidades muito diferentes.

Prem Baba: Você está acordando, você está conseguindo perceber como as coisas estão estruturadas dentro de você. Você conseguiu identificar o jogo do seu ego, é exatamente isso. O perdão é o desapego da vítima, e é a identificação com essa menina abandonada que lhe impede de perdoar o seu pai e o assassino. Porque você não se desidentifica dessa menina abandonada? Essa é a questão agora. Se você já está consciente do estrago que essa identificação está fazendo na sua vida e na vida de quem está ao seu redor, porque você insiste em sustentar essa identificação? Têm algumas coisas, têm algumas coisas. Mas tem uma coisa que é feita de medo, de orgulho e de obstinação. Essa é a cola que te mantém identificada com essa criança ou com a sua história. Nesse caso aqui, por onde você entra para tentar soltar isso? Dessas três portas que eu estou sugerindo, orgulho, medo e obstinação, por qual você entraria? Eu entraria pela obstinação. Por quê? Porque você já compreendeu o jogo do ego. Tem orgulho envolvido? Tem. Tem medo de perder essa identidade? Tem. Mas quem está segurando mesmo é um pacto de vingança. “Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira”. Já fizemos esse exercício aqui algumas vezes, vamos fazer de novo. Fecha a mão, fecha. Aperta, aperta, segura. E agora solta. Não é mais fácil? É muito mais fácil! O que você está fazendo é muito difícil. É muito difícil. Você está passando a sua vida nesse tremendo esforço, porque o pacto de vingança gera uma tensão absurda no sistema inteiro, pois você precisa fazer muita força para sustentar essa vingança. De onde vem essa força? Da sua vontade. O poder da vontade, que deveria ser usado para você subir, você está usando para descer. Essa vontade invertida que eu chamo de obstinação. É uma vontade egóica, porque você acredita que só dessa maneira vai ver justiça, porque você é cética em relação à justiça divina. Essa compreensão sobre a justiça divina também não pode ser fabricada. Se você não confia, não confia. Mas, pelo menos, você vai ter que abrir mão dessa necessidade de fazer justiça pelas suas próprias mãos. Têm pessoas que não conseguem abrir mão de uma vingança, não conseguem soltar a obstinação, que é quem alimenta a vingança, porque é só o que ela conhece. Toda a vida dela gira em torno disso. E abrir mão disso significa ter que reescrever a sua história, se abrir para uma coisa completamente desconhecida. E talvez, realmente, você não se sinta pronta para viver sem essa vingança.

Quem é você sem esse conflito, sem ter um pai para acusar que te abandonou, sem um assassino para acusar que matou seu pai? Eu não estou dizendo que isso não tenha acontecido. Uma coisa é a situação que se deu na sua vida, outra coisa foi a história que você criou e fez com que você saísse da cena da vida real. E aí há um outro elemento que você vai ter que lidar também, por exemplo:

Pergunta: Querido Prem Baba, inspirado pelo seu satsang, descobri que eu realmente evito o prazer, como se fosse a porta de entrada para o inferno. No entanto, eu não entendo por que faço isso. Você poderia explicar, por favor, o mecanismo por trás disso?

Prem Baba: O mecanismo por trás de toda a negação do prazer é uma mentira, é um autoengano. É quando você está obstinadamente sustentando uma mentira, uma máscara. Você vê o prazer como perigo, porque o prazer tem a qualidade da luz, e a luz dissolve a escuridão, ela leva embora essa falsa identidade. Então sempre que você vir o prazer como um perigo, eu sugiro que você vá atrás da voz dentro de você que diz assim: “Eu quero ser rancoroso. Eu quero me vingar. Eu quero ficar isolado, separado”. Ou que diz assim: “Eu quero tudo do meu jeito ou não quero nada”. Que é uma outra maneira de dizer: “Eu quero briga”. Com isso você chega nesse lugar que essa pessoa está, conseguindo identificar que ela não quer perdoar, ela não quer abrir mão desse jogo do ego. Você identificou o jogo do ego, mas não está disposto a abrir mão dele, porque aí está o seu prazer, um prazer no sangue, um prazer no sofrimento. Na psicologia chamamos isso de masoquismo.

Por isso estou dizendo que para amar se faz necessário um certo tipo de coragem. Mas de vez em quando acontece, alguns conseguem romper essa defesa toda. Por exemplo: 

Pergunta: Guruji amado, é tanto amor que eu não sei o que dizer ou o que fazer. Tudo o que aprendi na vida se perdeu, se foi. Não há palavras mais. Gratidão. Gratidão. Gratidão.

Prem Baba: Jay ho! Jay ho! Jay ho! Jay ho! O trabalho é assim. Sentamos juntos, algumas palavras surgem, a resposta para uma ou outra pergunta, e de repente um ou outro: “Ah, entendi!”. Aí outro: “Ah!”. Até que vamos ampliando esse campo de budas, esse campo de seres despertos, seres que estão podendo dar passagem para o amor e o perdão, seres que têm a coragem de ser quem é, a coragem de ser livre como a brisa. 

Eu sinto que está ficando cada vez mais claro que o que lhe impede é a sua mente. O que lhe impede de experienciar a liberdade de amar é a sua mente, só. Não tem ninguém lhe impedindo, mas sim um conjunto de pensamentos. É só um conjunto de pensamentos. 

Ótimo. Se alguma coisa não está clara para você, sugiro que você tenha calma. Já, já a clareza chega, é só uma questão de tempo. Devagarinho a compreensão lhe visita.

Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos acolher e curar nossas feridas ancestrais. Até um próximo encontro.

NAMASTE