Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

Caminho da Autorrealização
Relação Guru-discípulo. As três fases do caminho da autorrealização: relação consigo mesmo, com o outro e com Deus. O método do Prem Baba: caminho da auto-investigação ou autotransformação (meditação) – primeira e segunda fases: remover as ilusões que levam a projeções e impedem a entrega a Deus e ao Guru. O processo de purificação consiste na integração de partes de si mesmo. O relacionamento com Deus ou caminho do amor - terceira fase - leva a pessoa da dualidade à Unidade, colocando cada molécula do corpo de acordo com a Vontade Divina. Método do Maharaji: caminho do Amor, entrega a Deus e ao Guru, desenvolvendo fé e devoção. Formas de desenvolver a devoção plena: oração, japa e seva, para dissolver os medos e purificar os sentidos. A entrega espiritual é um trabalho no nível da alma, que permite interromper o pensamento compulsivo e realizar o silêncio interior. É a realização da divindade que nos habita. O fluxo da compaixão se expressa na oração espontânea, que é a fragrância do Ser.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
10/2/2018

Sri Prem Baba: Continuemos a caminhada nas trilhas misteriosas do coração, estudando e praticando o conhecimento que desvenda o amor. Você diz assim:

Pergunta: Querido Prem Baba, você pode falar um pouco mais sobre os três níveis de desenvolvimento? Sobre o fato de a relação consigo mesmo, com o outro e com Deus não ser um caminho linear? Poderei eu amar verdadeiramente o mestre e ao mesmo tempo projetar nele as minhas carências?

Sri Prem Baba: Essa é uma boa pergunta. E esse é um exemplo de como esses níveis não são lineares. É possível, sim, você estar amando verdadeiramente e o ego, que ainda não foi integrado, roubar a cena; e, assim, você pode experimentar uma contradição: dizer sim e não para uma mesma coisa. Para que eu possa me aprofundar nessa resposta, talvez seja importante lembrar um pouco desses três níveis.

Estou falando da jornada da alma, que é o caminho da autorrealização. Esse caminho pode ser visto de diferentes maneiras; porém, da forma como estou olhando neste momento, eu vejo três fases. E a primeira fase é a relação com você mesmo. É estranho dizer isso – “relacionar-se consigo mesmo”, porque, afinal de contas, quantos você é? E a resposta é: muitos! Há diferentes partes fragmentadas da personalidade que agem por conta própria, como se fossem um indivíduo, que têm vontades específicas e que muitas vezes vão em direções totalmente diferentes. Eu chamo essas partes de "eus" psicológicos. São muitos os "eus" que nos habitam e às vezes num mesmo instante um eu quer uma coisa e o outro eu quer uma coisa diferente. Além disso, existem certos mecanismos que não permitem perceber que são distintos "eus" atuando. Você acha, muitas vezes, que todas essas expressões são você e por isso fica tão confuso. Você é capaz de amar e odiar a mesma pessoa no mesmo instante, e acha que está enlouquecendo, mas na verdade tem um eu que ama e um eu que odeia.  A primeira fase, ou primeiro nível, envolve derrubar as barreiras que separam você desses "eus", de forma que você possa conhecê-los. E isso significa conhecer as partes em você que odeiam, que sentem ciúmes, que têm inveja, enfim, todas as partes que ficam te jogando para diferentes direções. 

A quebra dessas barreiras é necessária para que haja integração, já que uma outra maneira de entendermos o processo de purificação é pela integração dessas partes. Então, durante uma fase da jornada, você é levado a fazer coisas das quais você se arrepende. Você sente raiva de agir de determinada maneira, mas não consegue fazer diferente, porque você é tomado, você é levado por isso. Por exemplo, você é tomado pelo ciúme, faz uma cena de ciúmes, mas depois fica morrendo de vergonha, cheio de culpa. E perceba que, nesse caso, outros "eus" ainda entraram: a vergonha, a culpa, o arrependimento. Em cada instante, você atua em um desses "eus".  Numa determinada fase, você é levado por impulsos inconscientes, mas não sabe de onde eles vêm, então não consegue fazer nada a respeito. No entanto, à medida que aprofunda nesse trabalho de cura, no processo de auto-investigação e de purificação dos sentidos, você começa a integrar essas partes. 

Você começa a compreender, pouco a pouco, que essas partes são criações da ideia de eu - uma ideia de eu central, que gera múltiplos "eus". Estes, por sua vez, se alimentam dos sentimentos negados e das emoções negativas geradas por esses sentimentos. Aos poucos, você vai interrompendo esse círculo vicioso e passa a deter essa multiplicação dos "eus". E como isso acontece? Quando puder deter o fluxo do pensamento compulsivo. E isso é possível com a liberação dos sentimentos guardados que alimentam os pensamentos. Assim você consegue parar esses "eus". À medida que vai chegando a um acordo com essas partes, você vai superando suas vergonhas e seus medos. Então, vai integrando essas partes e começa a chegar à fonte que gera essa multiplicidade de "eus". Você chega a essa ideia de eu central, que conhecemos como ego. 

Essa é uma fase. A segunda fase é o relacionamento com o outro. Obviamente que a primeira e a segunda fase estão interconectadas, pois você só pode derrubar as barreiras que te separam do outro, só pode superar o isolamento e viver uma experiência íntima, quando alcançou a integração dessas diferentes partes de você mesmo. Toda essa segregação e toda a desconexão com essas diferentes partes de si mesmo vão aparecer quando você estiver se relacionando com alguém. Por exemplo, você pode ter vergonha de alguma coisa da sua vida, de algo que não quer ver, então você esconde isso até de si mesmo; mas, quando você se relaciona com uma pessoa, essa vergonha é ativada, ou pelo menos há uma grande chance de essa vergonha ser ativada. Quanto mais sentimento estiver envolvido na relação, mais essas partes escondidas serão acionadas. E isso é uma chance para você tomar consciência. Por exemplo, você diz assim:

Pergunta: Peguei uma mentira da minha namorada ontem e quase definhei de chorar. 

Prem Baba: Você está descobrindo uma parte sua que se decepciona, uma parte que não sabe lidar com a mentira. Você criou expectativas em relação a essa pessoa, mas essa pessoa não pode atender às suas expectativas. Essa situação está ativando aspectos que você não conhecia, além de "eus" que atuavam sem que você soubesse ou percebesse. Mas agora você tem uma chance de conhecê-los. Então, perceba como não é linear: você está trabalhando para quebrar as barreiras que te separam do outro, está tentando ser honesto, aprofundar-se no encontro e ser sincero, mas surgiu uma situação que faz com que você descubra partes com as quais não chegou a um acordo. Então, você se volta para si mesmo e olha essas partes fragmentadas. Quem em você que está chorando? Quem em você que se decepcionou tanto?  Entre em contato com esse eu, vá fundo para integrá-lo. E, para isso, você precisa conhecê-lo.

A terceira fase é o relacionamento com Deus. É quando nos movemos da dualidade para a unidade, porque Deus está dentro. Deus é o seu eu interior mais profundo. A terceira fase significa remover tudo aquilo que lhe impede de perceber seu estado iluminado. Remover tudo aquilo que lh e impede de perceber que a autorrealização está aqui e agora. Eu digo que se trata de colocar cada molécula do corpo de acordo com a vontade divina. Contudo, se você tem pendências na segunda ou na primeira fase, não vai ser bem-sucedido na terceira. Maharaji, que é o meu guru, tem um método muito simples: entregue-se! Entregue-se a Deus, entregue-se para essa verdade mais profunda, ou para o guru. Entregar-se para Deus, entregar-se para o guru. Eu compreendi esse método. Eu compreendi. Basicamente, trata-se de fé e devoção. Se você não tem uma fé plena, não tem uma devoção pura, trate de desenvolver! Trabalhe para desenvolver. Como? Como você puder! Ele sugere oração, japa e seva, para purificar os sentidos e o coração, e para dissolver os medos; e assim você vai poder se entregar, ter fé plena e devoção pura. 

No entanto, em dado momento, eu compreendi que aqueles que vinham para mim não estavam compreendendo bem esse método. Eu comecei a ver esse amor sincero pelo mestre, mas muitas vezes esse amor vinha com várias projeções. Então, eu acabei trazendo-a para o trabalho. A auto-investigação dentro da linhagem Sachcha foi o Prem Baba que trouxe. O Maharaji aprovou, falou que era um método muito bom. E está funcionando muito bem. Então, vamos continuar! A auto-investigação e a entrega são os dois caminhos possíveis - alguns chamam de caminho da meditação e caminho do amor. São os dois caminhos possíveis, mas eu considero que em algum momento eles se encontram, porque, à medida que você se aprofunda no processo de auto-investigação, começa a remover as ilusões que te impedem de se entregar, as ilusões que te fazem projetar.

Então, a primeira e a segunda fase da jornada acabam desenvolvendo dimensões do amor. À medida que vai removendo a ilusão - ilusão a respeito de quem é você e de quem é o outro, esses "eus" vão desaparecendo. O outro também vai desaparecendo, o mundo vai desaparecendo, porque o outro e o mundo são projeções da sua mente. Esse terceiro estágio, que é o trabalho no nível da alma, é uma entrega espiritual. Mas você pode entrar nesse terceiro nível e ainda carregar elementos do segundo e do primeiro? Pode. Isso é natural, porque você vai dissolvendo aos poucos. 

Hoje eu estava conversando com uma pessoa que está sentindo que já se relacionou o suficiente. Ele está chegando a um momento em que quer caminhar sozinho. Ainda tem, de vez em quando, atração pelo sexo oposto, mas sente que não é mais isso. Isso é natural: quando você brincou o suficiente, aquele brinquedo já não interessa mais. Pode até acontecer de você ir perdendo o interesse, mas ainda dá uma olhada e sente uma atração; só que você compreende que não é mais para você. No entanto, se você tiver um impulso forte e for atrás do outro, então significa que ainda tem uma pendenciazinha com a segunda parte, talvez até com a primeira parte. E, assim, você vai indo, até que esteja completamente livre: livre da carência, livre da dependência, livre da ilusão criada por esses "eus" psicológicos. Em outras palavras, livre para amar. Livre para amar. Livre para expressar plenamente o ser. O ser, ou Deus, ou eu divino, é você. Está aí! Está aqui! Você só não está percebendo isso por conta desses "eus" pensamentos que distorcem a sua percepção. 

Assim como uma criança, que começa engatinhando, para só depois aprender a andar e a correr, mas que sempre teve o potencial de correr dentro dela, o ser humano passa por fases de desenvolvimento, mas o pleno potencial já está aqui e agora. Você não trabalha para se autorrealizar; não existe isso de se autorrealizar, porque você já é autorrealizado. O que você faz é perceber isso. E você percebe isso, quando silencia internamente. Então, o trabalho de cura – a integração dessas diferentes partes e a quebra das barreiras que te separam do outro - é exatamente para poder promover o silêncio interno, para interromper o fluxo do pensamento compulsivo. Sendo assim, tudo aquilo que a gente vive aqui nesse mundo é material de escola, para que você realize a divindade. 

O que é realizar a divindade? É perceber a divindade que te habita! Porém, para perceber essa divindade e sustentar isso, você precisa chegar a um acordo com ego e mente. Perceba que, nesses discursos, o que eu procuro é te ajudar a compreender a mecânica do ego e da mente, para que, através dessa compreensão, você possa interromper o fluxo de pensamentos e perceber a realidade divina. No caminho da entrega, o guru lhe dá isso. Você vem, senta-se aqui e tem um momento de lembrança de si mesmo. No entanto, eu percebo que, dependendo do momento da sua jornada, você sai daqui, vira a esquina e já esqueceu. Por isso, existe a importância de integrar o trabalho de auto-investigação, que eu também chamo de autotransformação, ou caminho da meditação, ou caminho da evocação da presença - que se une ao caminho do amor, da rendição, da devoção. E, inclusive, esses caminhos também se misturam. Por exemplo, durante uma fase do seu caminho, você sente devoção e adora fazer arati, adora fazer puja, mas de repente tudo isso desaparece, e você não sente mais devoção nenhuma; mas você pode seguir se auto-investigando, até um momento em que descobre uma parte sua se sentindo ameaçada, e você consegue integrar isso; então, a devoção surge de novo... E, dessa maneira, você vai indo, até que estabilize a consciência, até que tenha bilhete só de ida para o céu. 

Então, sim, é possível você amar e projetar ao mesmo tempo. Nesse caminho do amor, às vezes você tem rompantes de compaixão, só que pode ter ainda uma parte da primeira esfera que interrompe o fluxo, por medo de errar. Por exemplo:

Pergunta: Baba, estou sentindo uma forte vontade de rezar para outras pessoas, mas não sei como. O que eu faço? 

Prem Baba: Prabhu ap jago, Lokah samasta... Quando você pergunta, já interrompeu o fluxo. Você trouxe pra mente. Deixa a compaixão se expressar como for: Prabhu ap jago, Lokah samasta, ou simplesmente “seja feliz”, ou não precisa dizer nada, basta deixar as lágrimas caírem. Na verdade, não precisa nem deixar as lágrimas caírem, elas simplesmente caem, porque não tem ninguém ali para controlar. É verdade que você está entrando aqui no fluxo de compaixão, que é a terceira fase; mas tem também um medinho de não ser perfeito, e você interrompe a espontaneidade da oração. A oração sincera é espontânea. É uma fragrância do Ser. Você é tomado pela compaixão. Percebe como não é linear? 

Esses mapas são uma tentativa de auxiliar o processo. É uma leitura do que acontece. Existem outros mapas: podemos em algum momento, por exemplo, falar do despertar sob a perspectiva dos chakras. Mas eu não quero alimentar a sua mente, o que eu estou querendo é te dar uma ferramenta que você possa usar de forma prática no seu dia a dia.

Amanhã o satsang será no mesmo horário, para dar a chance de vocês, que estão em outros cantos do mundo, com a diferença de horário muito grande, participarem. Alguns me perguntaram: a pessoa que está assistindo o satsang pela internet pode receber o darshan? Deixa essas pessoas responderem como está sendo essa experiência. Claro que existem coisas que só acontecem aqui, mas tem coisas que só acontecem lá! A questão é estar onde o seu coração determina. Às vezes o seu coração determina que você venha fisicamente até aqui, para deixar certas coisas e receber outras. Certas entregas só são possíveis com a presença física, e algumas coisas que você recebe também só são possíveis estando presente. Já outras, não. Então, a questão é saber onde o seu coração determina que você esteja. Coração é o nome que eu dou para o Ser. Eu, por exemplo, venho todo ano. E venho trazer coisas que eu peguei no mundo todo, por onde eu passei. Sabia que isso existe? Existe! Pode ser que isso mude, não sei, eu não me preocupo com isso. Não me preocupo com o amanhã. Eu vou onde o Maharaji me leva. Ele me ensinou esse caminho, e para mim funcionou. E chegou uma hora em que não precisou fazer mais nada, nem sadhana nenhum, só entrega.

Durante um tempo projetei meu pai nele também. O que fazer? Especialmente quando ele me apertava pra quebrar as minhas ilusões... 

Esse é o método dele; ele só transmite a energia. A energia do Ser, que lhe desperta, e dissolve as ilusões, que quebra as barreiras.

Ótimo. Transcendental! Sempre que possível, venham! Abençoado seja cada um de vocês. Que o amor e a sabedoria iluminem os passos da sua jornada. Até um próximo encontro.

NAMASTE.