Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

Como Lidar com a Sensibilidade à Percepção do Tipo de Energia Presente nos Diversos Ambientes
Para subir para os chakras superiores, o coração deve estar limpo. Na medida em que realizamos o processo interno, a sensibilidade aumenta e crescemos na percepção da sincronicidade. Trabalhamos para podermos transitar por qualquer lugar. Para estarmos no inferno e não nos queimarmos. Mas existe um limite para permanência em ambientes muito densos. Ambientes em que se praticam crueldades são mais agressivos àqueles que estão sustentando a expansão da consciência, porque os chakras são como usinas de transformação de energia. Alterações no sono, na alimentação e na percepção gastrointestinal são indicadores de que a sensibilidade está aumentando.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
23/2/2017

Pergunta: Amado Guruji, você poderia nos falar um pouco sobre a oração gravada que é colocada para ouvirmos no salão antes do satsang? Não estou pedindo uma tradução literal, mas talvez só em saber a importância e o significado dessa oração para o seu coração e para a linhagem. 

Sri Prem Baba: Os cantos védicos são uma antiga forma de oração. Nosso caminho é influenciado pela cultura védica. Não é a única influência, mas é uma das influências. Alguns aspectos da cultura védica funcionam como uma bússola – mostram a direção, nos ajudam a relembrar a direção – além de determinados rituais e preces terem de fato um poder mágico. Se você está consciente no momento de estar realizando esse rito ou essa oração, você percebe a movimentação da energia. 

Nosso caminho recebe outras influências, uma delas é anterior à cultura védica, ainda que vinda da Índia. Uma influência que talvez hoje o nome que mais se aproxime seja o tantra

Os vedas ganharam forma durante o período conhecido como Índia Clássica, cerca de dois mil ou mil anos antes de Cristo. Mas, antes disso, existia uma cultura matriarcal aqui neste lugar. Talvez seja uma das referências mais antigas da humanidade, depois da África. O povo Drávida, que tinha uma cultura matriarcal, sensorial, desrepressora, uma harmonia com a natureza e isso é mais próximo do que eu compreendo como tantra – que é a cultura da espontaneidade e harmonia com os ciclos da vida. 

Daí houve uma invasão ariana; o povo Drávida foi dizimado, restando pouco desse conhecimento, dessa sabedoria que foi sendo transmitida de boca a ouvido. Com a chegada dos arianos, nasceu também a cultura védica que, embora tenha trazido um patriarcado e alguns aspectos até bem contrários à visão tântrica, tem também suas verdades. 

Meu trabalho é ficar com a verdade e deixar aquilo que é mentira de lado. E eu percebo que uma das verdades da cultura védica, entre tantas outras, porque tem realmente um rico repertório de conhecimento, de informações que, de fato, ajudam o buscador da verdade – são os cantos védicos propriamente ditos. Eu utilizo os cânticos védicos de acordo com a situação, de acordo com o momento. 

Agora, por exemplo, nesse ciclo conhecido por Shivaratri, especialmente esse Shivaratri do mês de Margh, é entre fevereiro e março, que é conhecido como Mahashivaratri, eu costumo usar esse canto védico, que é uma forma de invocação de um aspecto do senhor Shiva conhecido como Rudra. 

Esse cântico védico tem o poder de desfazer encantamentos, feitiçarias, magias perversas, quebrar ou dissolver nódulos kármicos, limpa o ambiente de miasmas astrais. É uma oração que tem o poder de purificar o astral. É assim para o meu coração. 

Para a linhagem propriamente dita, não sei te dizer poque não vejo outro Ashram da linhagem utilizando esse canto védico. Isso veio comigo mesmo. 

Um sentimento que emergiu do meu coração foi, durante o Mahashivaratri, trabalhar com esse aspecto do senhor Shiva, porque tenho já, há alguns anos, proposto um trabalho de cura durante esse período e geralmente vamos muito fundo no trabalho de purificação e transformação. Notei, nos anos anteriores, esse confronto com aspectos bem profundos do psiquismo, encantamentos profundos e algumas vítimas mesmo de pactos de magia e feitiçaria dos quais não se davam conta. Eu considero pactos de vingança criados pela criança ferida também como uma feitiçaria, porque não é só um trabalho psicoemocional. Às vezes, mesmo você dando o seu melhor para se desidentificar de um padrão condicionado, você percebe que é difícil se libertar por causa do tanto de energia que tem envolvido naquilo.

E foi aí que eu senti a inspiração de trabalhar com esse raio divido para auxiliar nesse processo de cura, compreendendo a cura como uma abertura de caminhos, quer seja cura psicoemocional ou mesmo física. É uma abertura de caminhos para a autorrealização. 

Temos visto a importância de se libertar das mazelas do passado, a importância de lavar o coração das mágoas, dos ressentimentos, para que você possa esquecer que você é uma filha, que é um pai, que é uma mãe, que você é o seu falso eu. Vimos a importância de acordar desse sono profundo, em que sonhamos ser uma gota separada do oceano e, para acordar, inevitavelmente, precisamos chegar a um acordo com o passado. 

Se faz necessário liberar os sentimentos guardados, se faz necessário abrir o coração. Se você quer subir para os chakras superiores, esse chakra tem que estar realmente limpo. Certa vez, um devoto perguntou a Narad como abrir as mil pétalas do chakra coronário. E ele respondeu: “mas como pensar em abrir as mil pétalas do chakra coronário, se não abriu as doze do chakra cardíaco ainda? 

Então, eu senti que esse canto védico traria benefícios para esse processo, uma forma de acelerar o processo. E muitos estão nesse trabalho de purificação e transformação – trabalho delicado, profundo e, ao mesmo tempo, tão simples de compreender e tão difícil de por em prática. Eu digo que é fácil compreender que, para você seguir jornada, precisa estar em paz, em paz com todos, libertar-se da ideia de que você tem inimigos. Mas, a prática é um pouco difícil, né? 

Às vezes, é desafiador você se afinar com os códigos divinos da paz. Isso requer um trabalho interno. E, à medida em que vamos realizando um trabalho interno, vamos nos sensibilizando, ampliamos a percepção, a intuição vai crescendo, a percepção da sincronicidade vai crescendo, vamos nos sentindo guiados pelo mistério e aí vamos nos deparando com outros desafios. 

Enquanto você está mergulhado no processo de cura e transformação do eu inferior, trabalhando para reparar as relações e criar as fundações de uma cultura de paz na sua vida, de certa forma, você está até amortecido em relação a algumas outras coisas que se manifestam no mundo, não percebe certas influências, você está focado em lidar com suas mágoas, seus ressentimentos e suas raivas e coisas do gênero. O foco basicamente está nas relações, sexualidade, como sobreviver; mas, à medida em que você vai chegando a um acordo com tudo isso e sua visão se amplia, aí você começa a lidar com outros fenômenos. Por exemplo: 

Pergunta: Amado Baba, ontem à noite tive vontade de tomar uma sopa. Fui para o outro lado da ponte e me sentei. Quando o garçom veio e fez o pedido, olhei para os olhos dele e pude perceber que ele estava com os olhos chapados de maconha. Automaticamente comecei a sentir toda a energia dele no meu corpo. E depois, toda a energia do restaurante começou a passar pelo meu corpo também. Eu tive que ir embora. Eu me sinto muito aberto. Você pode comentar sobre isso? 

Sri Prem Baba: Essa é uma nova página do livro da vida que você vai começar a estudar agora. Estou lendo essa pergunta porque vejo muitos passando por coisas semelhantes, especialmente aqueles que estão comigo há mais tempo e que estão se afinando com o silêncio. Estes estão abrindo os canais e se tornando mais sensíveis e por isso não estão dando conta de estar num mundo com tanto barulho, crueldade e luxúria. 

Essa é uma questão que realmente precisamos olhar com objetividade porque, até que aprenda a andar no fogo sem se queimar, talvez você queime um pouco e você precisa saber lidar com isso. Estamos trabalhando para que você possa transitar em qualquer lugar, poder até mesmo ir ao inferno e sair ileso. Ir até lá, dançar com o capeta e voltar numa boa. Mas, para isso, se faz necessário desenvolver um grau elevado de presença e poder sustenta-la. E, mesmo podendo sustentar a presença full time, existe ainda uma limitação de tempo que você pode ficar em certos lugares. 

Você pode ir ao inferno, dançar com o capeta, mas chega uma hora que o relógio começa a dar um alarme, um alerta: “estamos perdendo altitude, estamos perdendo altitude. Perigo. Perigo”. E aí você tem que se recolher. Então, se mesmo quando você pode sustentar a presença todo o tempo, você tem um limite; imagine quando você está ainda aprendendo a sustentar a presença. 

Então, você precisa ser realmente seletivo, mas não é seletivo por preconceito ou julgamento, mas sim por uma questão de saber onde seu calo aperta. É uma questão de respeitar os seus sensores, uma questão de afinidade vibracional. Se você fica muito tempo em um lugar que tem uma vibração muito diferente da sua, uma vibração mais densa, muito mais baixa, claro que você é sugado. Isso não é moralidade, isso é física mecânica. Não tem nada a ver com juízo de valor, mas com uma questão física mesmo. 

É fato que em algum momento você poderá sustentar a consciência em um grau elevado e com isso poderá levar luz por onde passa. Porém, estando com a consciência expandida, não é em todo lugar que você vai querer ficar. Você vai escolher um lugar que favoreça o seu estado vibracional. O ambiente também é importante para sustentar o seu estado de consciência. 

Determinados lugares se tornam muito agressivos para você. E o lugar que é agressivo para quem está vivendo em um estado satwico – um estado de expansão de consciência – é um lugar que tem crueldade. Então, por mais que você possa iluminar o caminho por onde você passa, você não consegue ficar muito tempo em um lugar que tenha muita crueldade, porque essa crueldade passa por você e chega uma hora que você não dá mais conta de tanta crueldade. 

Você ilumina por onde você passa através do seu corpo; a consciência se manifesta através do seu corpo. Você está encarnado, os seus chakras são como usinas de transformação de energia, você inspira a miséria e exala bênção; você inspira a tristeza e o sofrimento do mundo e exala alegria, bem-aventurança. Mas, chega um momento em que, dependendo do lugar onde você está, é miséria demais para você inspirar e você sente isso no corpo físico. Então você começa a adoecer e se você não respeita esse limite, aí pode agravar a doença. Nesse caso, a doença é como um resultado do fato de você não estar dando conta de transmutar tanto sofrimento e aí isso começa a ficar no seu corpo e vai desequilibrando todo o seu metabolismo, criando doenças. São fases da vida. 

Eu falo a partir da minha experiência. Durante uma fase, eu me achava um verdadeiro “estômago de avestruz”, ou seja, achava que podia digerir qualquer coisa. Eu tinha facilidade para ir ao inferno. Até me envaidecia dizendo: “posso andar em São Paulo, em Nova York e fico ótimo. Tenho um apartamento em São Paulo e durmo tranquilo”. Mas, em um Kumbh Mela, meus canais abriram muito mais e quando eu voltei a dormir naquele apartamento em São Paulo, comecei a sentir o prédio inteirinho – o karma de todos os moradores passava por mim – e eu não podia mais dormir naquele ambiente. Então, eu comecei a ficar doente e tive que fazer uma escolha. Agora eu apenas passo por esses lugares e fico poucos dias, porque tem um limite a ser respeitado.  

Vejo que isso está acontecendo com muitas pessoas aqui e acho que um bom sensor, um bom sistema de alarme, é notar como está o seu sono. Você está dormindo bem onde você está? Porque, quando começa a perder muito sono, é porque está demais para você. Então é preciso rever. 

Às vezes, por força do karma, você não consegue sair de onde está. Mas, ao menos precisa de férias, uns dias em algum lugar em que você possa descansar para repor as energias. Até por conta disso eu sinto que, no futuro, vamos precisar rever o nosso modelo da temporada. Porque, se você está fazendo a lição de casa e está se tornando mais sensível; se você está expandindo a consciência, você não vai dar conta de ficar nesta vila com tanto barulho. 

Eu estou cuidando de tudo isso. O Maharaj está cuidando. Isso faz parte do plano de vôo. É importante considerar que em algum momento você precisa estar dentro de um campo de prece. Chega um momento em que você precisa estar num lugar onde há somente essa energia amorosa e silenciosa para poder continuar o seu processo de desenvolvimento, subindo pelos chakras superiores. Mas você não deve fantasiar a respeito disso. Deixe acontecer naturalmente. Talvez esse não seja o seu caso. 

Outro elemento que podemos usar como alarme, além da questão do sono, é a alimentação. Conforme vai se sensibilizando, você não consegue mais comer qualquer coisa. Não é possível se alimentar de crueldade e nem de elementos muito densos. Às vezes até conscientemente você escolhe comer alguma coisa densa até para conseguir andar na matéria, para não ficar tão diferente, para diminuir o impacto da energia no seu corpo. 

Mas é um fato que, conforme vai se sutilizando, a sua alimentação também vai se tornando mais sutil, e se você come uma coisa mais pesada, mais industrializada, você passa mal. É comer e se entortar. O aparelho que digere o alimento é o mesmo que digere a energia. Tudo é uma coisa só, o fogo da digestão está no manipura chakra, o terceiro chakra, que fica no plexo solar. Ele é responsável pela digestão da energia do alimento e quando ela está muito pesada, ele trava. 

Então, outro alarme é o desconforto gastrointestinal. Talvez você precise se recolher e passar uns dias comendo comida leve, um kitchari, para dar ao corpo apenas o que ele precisa para continuar funcionando, pois ele está sofrendo com os excessos. 

Aqui tem uma questão longa, mas que tem algumas coisas que eu acho que é legal eu trazer agora: 

Pergunta: Amado Babaji, ontem, quando soube da morte inesperada da minha querida amiga Mira, o primeiro pensamento que tive foram suas palavras: “se você soubesse que vai morrer em 4 dias, o que você faria?” minha verdade é que não sei, até que aconteça; mas posso ter um desejo para meus últimos quatro dias. Meu desejo: acordar a cada manhã e agradecer a Deus por mais um dia para viver. Tomar minha xícara de café preto na natureza com flores e pássaros cantando. Ligar para meu filho e filha e dizer a eles de novo “eu te amo” e dizer adeus. Sentar-me com você no satsang e no quarto dia olhar profundamente nos seus olhos profundos e silenciosos e do meu coração sussurrar: “Babaji, obrigado, obrigado, obrigado”. Então eu vou respirar pela última vez e morrer com um sorriso no meu rosto. E na sua Graça, saber que essa foi uma vida abençoada, cheia de gratidão por você ter acordado o amor em mim e em tantos ao redor do mundo. 

Sri Prem Baba: Bonito. Muito bonito. Me fez lembrar do Raj Kumar, um brahmani que realizava os pujas para mim aqui no ashram. Ele se conectou tão profundamente comigo que, quando começou a se desligar do corpo, eu ainda estava no Brasil e então ele heroicamente ficou no corpo até eu chegar para ele poder olhar nos meus olhos e dizer dhanyavad, muito obrigado. Então, eu coloquei uma foto do Maharaj perto dele e dei um pouquinho de água do Ganges na sua boca até que ele se foi. 

O corpo é o último apego, porque mesmo estando desperto, você continua usando o corpo. Maharaj me deu esse ensinamento. Certa vez, eu achei que ia morrer por conta de um erro de diagnóstico médico. Então, eu vim até o Maharaj e contei a ele o que os médicos estavam dizendo e ele disse: “não tem problema se você morrer cedo”. Aí eu falei: “Ta bom, Guruji, se mudaram os planos, não tem problema”. 

Eu falei no problem, mas dentro de mim não era assim tão fácil. Eu pensei: “puxa, agora que minha vida tá começando a ficar boa”. Foi quando eu percebi o meu apego ao corpo. E, quando consegui superar esse apego e relaxei, eu voltei lá e ele disse: “Prem Baba, eu entrei no seu corpo várias vezes durante esses três dias e não vi nada. Isso é um erro médico, não se preocupe. Você vai viver muito ainda”. Mas eu já não estava preocupado. Se tiver que ser, qualquer dia é um bom dia. 

É isso. Só o amor pode quebrar os apegos. 

Pergunta: Amado Babaji, nas meditações no quartinho do Maharaj, percebemos que tem um homem que está imóvel em posição de meditação há vários dias, em estado de samadhi..

Sri Prem Baba: Querido, me perdoe... Não é totalmente errado, porque é uma estátua do Maharaj, é uma murti do Maharaj que está ali coberta, esperando o momento para ser instalada. Então, não deixa de ser uma representação do Maharaj que está em samadhi

Eu também acho esquisito aquela estátua daquele jeito lá. Às vezes, eu olho parece uma pessoa mesmo. Talvez seja melhor tirar de lá. e você não foi a única pessoa que pensou isso, várias pessoas me perguntaram: “quem é aquela pessoa que está meditando no quarto do Maharaj? Parece um yogi perfeito, porque está há dias com a cabeça coberta, não se mexe”. 

Muito bem, meus amados amigos. Amanhã será um dia atípico porque temos uma programação diferente. É um dia bem cheio de atividades e você deve até se organizar para participar daquilo que sentir vontade de participar, porque é bastante coisa. 

Tem uma série de pujas, vários rituais védicos que alguns já estão habituados e outros não entendem muito. Começa às 10h da manhã com um puja para Sachcha Baba e Maharaj, depois, na sequência, tem um puja para Shiva, no templo. Às 15h30 tem um puja para mim, aqui neste salão; uma forma de celebrar o meu aniversário de iluminação. Depois, às 5h da tarde, vai ter uma festa no templo de Shiva: cânticos para celebrar. Às 9h30 tem mais um puja aqui no salão para Shiva e aí a gente segue cantando para Shiva até de madrugada, até as 3h da manhã. Então, faça aquilo que o seu coração sentir. 

Ela está me lembrando da situação com o Maharaj, quando eu cheguei e estava doente, ele pegou o diagnóstico do médico e colocou debaixo do travesseiro e ficou lá uns dias com aquilo. 

Abençoado seja cada um de vocês. Que estejamos sempre prontos para aquilo que a vida nos trouxer. Até um próximo encontro. 

NAMASTE