Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

Do Ceticismo à Devoção – O Caminho de Um Buscador
Características da música e efeitos do canto devocional. Ceticismo, fé e devoção. Darshan do Guru. Poderes místicos e iluminação. Concentrar a mente em Deus através da devoção e do serviço. A cura através do amor. Prem Baba e sua trajetória espiritual. A vida como um jogo divino para o despertar da fé e do amor.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
5/2/2017

Sri Prem Baba:  A música é um dos grandes mistérios da existência. São infinitas as possibilidades de combinações das notas musicais. Essas combinações formam estruturas que agem como meio de transporte para os mais diferentes quadrantes da consciência. Mas, independentemente dessa característica, um fenômeno mecânico que se dá através da ressonância sonora e que funciona como uma chave para abrir determinadas portas do nosso universo interior, no caso específico da música que utilizamos nos nossos encontros, existe um elemento ainda mais misterioso: a devoção. Essa música nos inspira a invocar o Divino, com amor.

Para aqueles que trilham o caminho da devoção, a única tarefa é chamar Deus com amor, e deixar que Ele faça aquilo que é preciso ser feito. A mente humana está incessantemente vagando pelo mundo. E o cântico devocional é como um pedido para que a mente seja direcionada para Deus. Independentemente daquilo que está sendo cantado, é como se estivéssemos dizendo: “Faça com que a minha mente se mova na sua direção; faça com que a minha mente seja atraída por você”.

Eu rezo para que você seja merecedor de ter um vislumbre desse amor, por que essa experiência te preenche e você só quer estar nesse amor. Ela aciona um círculo benigno no qual você segue cantando e constantemente orando ao Supremo, para que a sua mente seja atraída por Ele.

Para alguns, esse conhecimento chega a ser estranho. É como um idioma estrangeiro, que alguns nunca sequer ouviram. Eu o conheço porque passei por isso. A personalidade que eu utilizo para me expressar nesse mundo foi moldada no cristianismo. Quando esse corpo era ainda uma criança, os seus pais eram cristãos e tentavam ensinar a ele a religião cristã; tentavam ensinar a Verdade através da bíblia cristã. Mas logo me rebelei contra isso e me tornei crítico em relação à religião. Na verdade, posso dizer que me tornei avesso - desenvolvi um ceticismo muito profundo. Embora eu carregasse dentro de mim uma tremenda sede de Deus, não sabia onde encontrá-lo.

Tornei-me um cientista: eu queria provas. Se alguém dizia que havia um Deus em determinada religião, eu ia lá conferir. Eu visitava diferentes grupos religiosos como se, no mais profundo, eu pedisse: “Por favor, se você existe me dê um sinal. Como eu vou acreditar em você?”. Cheguei a pensar que a fé seria um jogo da mente. Nesse momento, a devoção era inviável para mim, pois eu me movia pela razão. E foi assim até que encontrei o meu mestre, Maharaji, e vi o amor encarnado. Esse amor me abalou a ponto de resgatar a possibilidade da fé: “Talvez exista realmente algo mais”.

O amor dele foi me abrindo, foi lavando meus medos, até que um dia aconteceu um fenômeno. Maharaji me deu a comida dele. Ele havia comido só uma parte e me ofereceu o resto. E recebi como um gesto de afeto. Sabia que ele me amava e que era um carinho que enviava para mim, então eu comi. E, naquele momento, eu senti o Supremo amor fluindo nas minhas veias, de uma maneira que não posso explicar, só posso concluir: fui abençoado pelo guru, e essa bênção iluminou meu coração. Eu senti o amor divino e percebi que existia um mistério, que seria pouco a pouco desvendado; um desvendar que seria possível somente através da benção do guru.

Eu comecei a servir o Maharaji com uma devoção que até então eu desconhecia. Foi um grande presente. Eu concluí que é muito raro receber o darshan de um santo verdadeiro e mais raro ainda é ter a oportunidade de servi-lo. Através da devoção e do serviço, a sua mente vai sendo direcionada para Ele. Talvez isso seja um sinônimo de salvação. Eu me senti salvo. Minha mente foi resgatada do mundo e foi direcionada para Ele. Entregar a mente para Deus requer sacrifícios, pois os apegos são muito grandes.

Dentro dessa esfera do conhecimento, surge uma pergunta:

Pergunta: Querido Prem Baba, os poderes místico são pré-requisitos para a iluminação?

Prem Baba: Não, muito pelo contrário. Os poderes místicos podem ser uma grande distração.

Vou contar mais um pouco sobre a história da minha personalidade. Quando eu tinha cerca de 18 ou 19 anos, tive o primeiro afluxo de poder. Nessa minha busca para desvendar o mistério da vida, acabei transitando em várias escolas de mistérios. Conheci o yoga muito cedo, com 13 ou 14 anos. Aprendi algumas práticas e técnicas e me dedicava a elas com uma disciplina de aço. Praticava duas horas por dia, fazendo chuva ou fazendo sol. Eu fazia alguns asanas, alguns pranayamas, alguns mantras, enquanto continha a energia sexual. Até que um dia houve uma explosão - acendeu uma luz dentro de mim e alguns poderes acordaram. Comecei a sair do corpo conscientemente e cheguei a levitar. Comecei a ler a mente das pessoas que se aproximavam como se estivesse lendo um livro aberto. Os amigos começaram a falar: “ele é especial!” e eu comecei a pensar: “sim, eu sou muito especial!”. Um deles chegou e falou assim: “você é um mestre”, e eu pensei: “sim, eu sou um mestre”. Não disse isso porque eu queria parecer humilde, mas eu pensei.

Era um poder muito poderoso nas mãos de uma vaidade primitiva, uma arma nuclear nas mãos de uma criança ferida, muito ferida, com um tremendo complexo de inferioridade, e que usava uma tremenda vaidade para se proteger. Essa criança ferida e vaidosa começou a ter poder de verdade.

Vou contar algo que normalmente não conto em público. Fui com grupo de amigos acampar em uma floresta. Todos nós éramos jovens buscadores espirituais. No final da tarde, a cada dia, um de nós tinha a missão de dirigir uma vivência. Quando chegou minha vez, eu usei um dos mantras tântricos que havia aprendido. E quando começamos a repetir o mantra, houve uma explosão no fogo, que subiu e desceu. Imagine o que isso representa para um menino carente! Por mais que eu queira explicar como é, não vou conseguir. É um tremendo poder sendo usado pela sedução e pela luxúria. Então, da mesma forma que isso tudo se abriu, ou melhor, da mesma forma que eu subi, eu caí com a cara no chão. A porta se trancou de um jeito que fiquei muitos anos sem sentir nada, me sentindo num profundo deserto, numa total aridez. A porta se abriu novamente em um trabalho xamânico, quando conheci a Ayahuasca. Naquele momento, abriu de novo, mas abriu só um pouco, nem perto do que foi um dia. Então eu iniciei um novo ciclo da minha jornada como buscador espiritual.

Eu tinha por volta de 20 anos de idade e, depois disso, passei por muita coisa, até encontrar um santo verdadeiro e ter o merecimento de receber seu darshan. Quando recebi o darshan, tudo se transformou. Eu pude compreender que, antes de se iluminar ou, melhor dizendo, o pré-requisito para a iluminação é abrir o coração. Os poderes místicos são frutos da árvore da consciência que só vão fazer algum sentido, se o amor real estiver presente. O amor utiliza os poderes como lila, em prol do despertar espiritual de todos os seres. O amor utiliza os poderes místicos com o único objetivo de acordar a humanidade.

É o amor que cura, é o amor que liberta. Não se preocupe com o poder; não desperdice o seu tempo buscando poderes místicos. Utilize seu tempo para fazer com que sua mente se direcione para Deus. Peça pelo darshan do guru, pelo darshan de um santo verdadeiro. Quando receber esse darshan tudo vai acontecer naturalmente. Esse é um fenômeno que se dá além da mente. Você experimentará fenômenos que a mente não explica e entrará na esfera daquilo que é conhecido como milagre.

Nessa esfera, absolutamente tudo é possível. Eu já vi, com esse meu olhar científico, tumores desaparecerem de um dia para o outro. Já vi um exame mostrar um tumor de 3 centímetros e, no dia seguinte, o mesmo exame não mostrar tumor algum. Esse é um exemplo bem pequeno. Tudo depende da conexão da sua mente com o Mistério. Quando direciona a mente para o Divino e estabelece essa conexão, você vê a vida como um jogo; você enxerga os episódios da vida como um jogo do Supremo. Você se liberta do julgamento, “isso é certo - Isso é errado; isso é bom - Isso é ruim”. E quando isso acontece, você relaxa profundamente, porque vê além de maya, além da ilusão.

Parece que o nosso grande desafio é deixar de tomar o irreal pelo real. Isso ocorre quando a mente é direcionada para o mundo. Então você se perde. Os eus psicológicos que transitam nessa esfera são infinitos. É tudo mentira, mas estando identificado, você acredita ser verdade. Você começa a acreditar que existe falta e que a vida é nociva. Você acredita que o universo é seu inimigo. E, para que possa se desidentificar disso, você terá um grande trabalho, até que possa voltar a ver além do véu da ilusão e compreender que tudo é um mahalila - um grande jogo - para acordar a sua fé. Tudo é um jogo para acordar o seu amor. E quando você experimenta esse amor, essa verdade, o sofrimento desaparece. O amor lava todas as suas impurezas.

Essa é a minha experiência. Aconteceu quando recebi o prasad do Maharaji. De outra maneira, seria impossível transformar minha consciência. As pessoas que estavam próximas de mim viram a mudança e estão de prova que um fenômeno aconteceu. Seria impossível chegar aonde cheguei se não fosse através desse darshan, desse prasad. Isso é um mistério que a mente não explica.

Antes desse dia, no qual eu recebi esse prasad, eu estava tomado pelo eu inferior, em uma crise de insegurança, de ciúme e raiva. Eu fiz um pranan para Sachcha Baba e na hora que eu coloquei a testa nos pés dele desapareceu todo aquele inferno que estava vivendo. Eu entrei em êxtase e dancei em ananda, a bem-aventurança. Como explicar isso? Quando saí daquele estado, eu queria entender e explicar, mas não era possível. Demorei para me render, pois havia dentro de mim um lado muito cético e teimoso. Deus me dava provas, eu desfrutava delas e novamente entrava em dúvida. Mas um dia eu realmente me rendi, mas continua sendo um mistério. Há um mistério nesses pés (os pés do guru).

Você começa de onde está. Eu contei onde eu estava quando comecei. Tanto ceticismo habitava a minha mente e, ainda assim, grandes milagres aconteceram.

Com isso estou querendo te inspirar a fazer uso desse instrumento que é o canto devocional. E o canto devocional é como uma forma de direcionar a nossa mente para esses sagrados pés. Uma coisa é você ouvir os músicos cantarem e ser abençoado pela beleza da música ou pelo efeito mecânico da ressonância sonora, ou até mesmo pela abertura do coração dos que estão a sua volta, que se tornam canais para um brilho Divino. Você é tocado por tudo isso, mas é bem diferente fazer parte dessa experiência. Quando você está realmente praticando, está ali cantando com o máximo de amor já disponível; com o objetivo de acordar bhakti, a devoção, um milagre é possível.  

A devoção não acorda de um dia para o outro. Até pode acordar, mas normalmente é um processo. Ela vai acordando. Quando ela acorda, realmente ocorre um fenômeno que, por mais que eu tente não conseguiria explicar. O que posso fazer é dar o meu exemplo, o meu testemunho e algumas referências. Posso dizer que vale a pena experimentar. Experimente e veja o que acontece, não há nada de errado em fazer alguns testes. Eu fiz muitos testes para entender o que é criação da mente e o que é Verdade; o que é somente uma crença e o que é real. Então eu estou te convidando para fazer alguns testes. Experimente cantar com o máximo de amor possível, independentemente da letra que está sendo cantada. O canto devocional é como se você estivesse chamando o Supremo que te habita: “Venha e habite meu coração, habite minha mente. Que eu seja um contigo. Que cada palavra que saia da minha boca seja a expressão do teu santo verbo. Que cada ato por mim praticado seja a expressão da tua santa vontade”.

Coloque a sua mente nessa direção. A natureza do mundo é te puxar e ela vai tentar fazer isso. Em algum momento você estabiliza a mente nessa direção, a direção de Deus. Chega uma hora que o mal te chama e tenta te desviar, mas você só olha e pensa “ok, sem problemas” e volta a colocar a sua mente em Deus. Se a tentação se tornar muito poderosa, você respira fundo e continua.

OM NAMOH NARAYANAYA

OM NAMOH NARAYANAYA

OM NAMOH NARAYANAYA

OM NAMOH NARAYANAYA

Comece cantando mesmo enquanto o mal está por perto, porque sua mente ainda está dando atenção para essas vozes. Com essa mesma atenção, continua firme sem dar alimento para o irreal, mesmo que ele queira parecer real. Assim vamos devagarinho aprendendo a não chamar “urubu de meu louro”. (risos)

OM NAMOH NARAYANAYA

OM NAMOH NARAYANAYA

OM NAMOH NARAYANAYA

OM NAMOH NARAYANAYA

Você vai largando a mente e ficando só no Narayanaya. Trate todas as vozes com Narayanaya, Narayanaya, Narayanaya, Narayanaya. Deixe Narayanaya te pegar, tire a mente do caminho, permita-se ser um louco de Deus, um louco de Deus. Deixe o Amor divino te pegar.

Você chama por Deus e quando Ele vem você desfruta. É só isso. É simples. Essa é a essência do bhakti.

Estou tendo o merecimento e o privilégio de assistir o mais belo dos fenômenos possíveis nesse plano da existência. O desabrochar de flores. Estou tendo a alegria de ver almas se movendo em direção a Deus. Nada pode ser mais belo. Eu considero um grande privilégio assistir o rio ir em direção ao oceano, assistir as ondas se dissolvendo no mar. Isso me toca e acorda em mim a compaixão, a oração sincera da onda pedindo para se dissolver no mar.

Eu sou a onda, faz de mim o mar

Eu sou a onda, faz de mim o mar

Faz de mim o mar, faz de mim o mar

Faz de mim o mar, faz de mim o mar

A onda do mar desfaz-se no mar

A onda do mar desfaz-se no mar

Faz assim, ó meu Senhor

Faz assim, ó meu Senhor

Tu e eu sempre unidos

Tu e eu sempre unidos

A onda do mar desfaz-se no mar

A onda do mar desfaz-se no mar


Dê o seu melhor para proteger essa conexão, mesmo andando na rua. Não se perca, não se distraia, mantenha sua mente firme na direção do oceano, até que essa conexão se torne inquebrantável; até que nada mais lhe abale. Quando essa devoção se estabelece plenamente, o seu corpo se fecha para o mal, porque tudo se torna divino.


Abençoado seja cada um de vocês. Que você possa ser tocado pelo Amor divino. Até nosso próximo encontro.


NAMASTE