Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

O Trabalho do Observador – O Arjuna Interno
O grande desafio é não se apegar aos pensamentos. A Graça dissolve os medos quando o observador não mais se identifica com eles. A equanimidade é uma conquista do eu consciente. Cada pensamento conta uma história a seu respeito e quando você acredita, você se torna a história. Aqui e agora não há sofrimento. Tudo são oportunidades para desenvolver o observador. Intuição é a voz do eu divino. O observador tem aliados como a fé e a devoção. Há que se assumir o compromisso de romper com a natureza inferior, resistir à tentação de acreditar nos pensamentos e permitir-se ser guiado pela intuição.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
7/2/2018

Sri Prem Baba: Eu o convido a silenciar por um instante. Que você possa alinhar sua coluna, deixar a cabeça no prolongamento da coluna e os braços sobre as pernas. As mãos podem formar um mudra — um gesto reflexológico simbólico, magnético ou podem encontrar-se a posição que você fique à vontade. 

Os olhos se fecham e você respira suave e profundamente pelas narinas. A cada respiração permita-se relaxar na calma do seu coração. Permita-se esvaziar de toda expectativa, de todo desejo de chegar em algum lugar. 

Esteja aqui e agora, simplesmente testemunhe o fluxo da impermanência: os impermanentes pensamentos, emoções e sensações. Não julgue ou critique, assista passivamente ao fluxo. Perceba que você pode observar. Quando tiver alguma dúvida a respeito da sua identidade, lembre-se que você é este que observa. 

O seu grande desafio é não se apegar aos pensamentos. Deixe os pensamentos seguirem suas jornadas. Você permanece aqui e agora. Permita-se aprofundar na quietude do seu coração, evitando o diálogo. Permaneça contemplando o vazio. 

Perceba que nesse lugar não existe sofrimento, não existe vítima, não existe o algoz, não existe o acusador e nem o culpado. Aqui e agora só existe calma, silêncio e bem-aventurança. Quando sentir, abra os olhos lentamente. 

Esse que observa é o herói da jornada. É o Arjuna do Bhagavad Gita. É quem elimina a ignorância, através da Graça do senhor Krishna – que é o eu divino. A Graça dissolve os medos quando você, Arjuna – eu consciente, observador –, não mais se identifica com eles, quando pode atravessar os medos. Assim, eles se dissolvem. Se a luz lá fora apaga ou acende, você não se incomoda, porque você não julga, não classifica e não rotula. Você só observa. 

Eu chamo esse estado de equanimidade, que é uma conquista do eu consciente. Você se autoinvestiga, ora, reza, faz seva, até que, pouco a pouco, vai abrindo caminhos para a Graça. Abrir caminhos para a Graça significa desidentificar-se daquilo que é impermanente. 

Os pensamentos vêm e vão, você só assiste. Não persiga e evite o diálogo com eles. Os pensamentos são compulsivos, as matrizes psicológicas pensam compulsivamente. Cada uma conta uma história a seu respeito, e você tende a acreditar. Quando você acredita, torna-se a história. É isso que chamo de identificação. 

Vem um eu psicológico e fala que você é uma vítima, ela conta uma história e você se convence de que é uma vítima, ou seja, você se identificou com a ideia de ser uma vítima. O observador se confundiu com aquilo que estava observando. O observador desapareceu porque se misturou com o que estava observando. Quando ele se mistura e se identifica com o pensamento, pode ficar muito tempo encantado com a história. 

À medida que o observador vai se fortalecendo – ele se fortalece através da prática – você volta cada vez mais rápido. Voltar significa soltar o pensamento que está dizendo que você é isso ou aquilo, que está criando inúmeros adjetivos para o que você está observando, ou mesmo classificando, rotulando e contando histórias sobre aquilo que você está vendo. 

Eu chamo isso de encantamento – o observador se encanta com aquilo que ele está observando, ele é sequestrado pelo pensamento. Através da prática, você vai voltando cada vez mais rápido. Você solta o pensamento e volta para o momento presente. Quando identificado com o pensamento, o mundo se torna limitado. 

Cada matriz psicológica tem um mundo. Suponhamos que você se identificou com o pensamento vindo da matriz do orgulho. O orgulho tem um mundo e você fica preso naquele mundo. Quando você se desidentifica, você volta e se coloca aqui e agora, percebendo que o universo não tem limites. Você se percebe como o conhecedor do campo e não como o campo. 

Aqui e agora não há sofrimento. O seu trabalho, o trabalho do observador, do Arjuna interno, é sustentar isso enquanto está se relacionando com o mundo e com o outro. Estar presente mesmo quando o outro não está presente. 

Então, o trabalho do Arjuna interno é resistir a esse poder gravitacional dos condicionamentos. Porque, se você está se relacionando com uma pessoa, qualquer relacionamento — você saiu daqui e olhou para o macaco que está querendo roubar a sua fruta, ou qualquer pessoa que cruze o seu caminho e talvez não esteja na presença — tem uma tendência a te puxar para o condicionamento, e seu trabalho é resistir a isso e manter seu coração aberto, manter a presença, e assim, criar a possibilidade de acontecer o contrário: sustentar a presença para que essa presença puxe a do outro. 

Seu trabalho é não cair nas armadilhas da natureza inferior. E, se cair, levante-se e siga. Culpar-se por ter caído é outra armadilha do eu inferior.  

Caiu, só levante e siga. Porque, se você se culpar, ficará preso no passado. O passado e o futuro tem portas abertas para o sofrimento. As portas para o sofrimento só se fecham no aqui e agora, essa é a essência do yoga. É um trabalho que requer dedicação, é o grande trabalho a ser realizado: tornar-se senhor da sua mente. Essa é a essência do trabalho. Se você conquista isso, tudo mais que precisar chega até você naturalmente. 

Assim você compreende que a vida em si mesma é uma oportunidade de desenvolver essa habilidade. Seus relacionamentos e seu trabalho são instrumentos para possibilitar que você atinja esse estado de equanimidade. Tanto aquilo que você considera uma coisa boa, como aquilo que você considera uma coisa ruim. Por que você considera uma coisa boa ou ruim? Porque o observador se misturou com o que ele estava observando e passou a classificar, rotular e julgar. 

Mas, tudo que acontece são oportunidades para desenvolver o observador. Chega o momento em que o observador se funde com o eu divino. Então, qual é a essência do treinamento, do trabalho desse observador, do Arjuna interno? Identificar a natureza inferior, identificar os pensamentos oriundos da natureza inferior e não se identificar. Identificar e não cair nas armadilhas. Reconhecer as vozes como sendo oriundas do eu inferior e não dar atenção a elas. Deixe passar. 

Vamos supor que um pensamento do medo venha dizendo que você vai ter uma perda. Você reconhece e deixa passar. Aos poucos você vai sabendo diferenciar o que é a voz do eu inferior e o que é a intuição. 

A intuição é a voz do eu divino, uma clara luz que aponta o caminho. O trabalho é reconhecer as vozes oriundas do eu inferior e não ceder. Você se desidentifica do eu inferior, dos Kauravas do Bhagavad Gita, e vai aos poucos se identificando com o eu divino. Vai se dissolvendo no eu divino, permitindo-se ser guiado pela intuição e pelas virtudes, que são os Pandavas que nos habitam. 

Esse observador tem muitos aliados, aliados divinos. Você vai descobrir isso na medida em que se firmar no observador. Entre esses aliados divinos, eu diria que dois estão sempre presentes: a fé e a devoção. 

À medida que você fortalece esse eu consciente, que atravessa os medos, vai adquirindo uma fé inabalável e uma devoção pura, que aciona um círculo virtuoso, que também é autoperpetuador. Assim você vai subindo, subindo, subindo e descobre que a iluminação também é infinita. 

Mas há que se ter esse compromisso de romper com a natureza inferior. O rompimento é simbólico, por romper quero dizer você conseguir resistir à tentação. A tentação é como um poder gravitacional que te chama para o inferno, te chama a se identificar com aquele pensamento da natureza inferior e se acreditar uma vítima e brigar. Se acreditar uma vítima, por mais que você tenha sido uma vítima. 

Compreenda o que estou dizendo, porque é possível que você tenha mesmo sido uma vítima, tenha recebido um golpe de amargura que te fez cair. Eu estou dizendo: caiu, levante. Uma das grandes armadilhas é a dó de si mesmo, que é uma manifestação da vaidade. “Como isso foi acontecer comigo?”, acontece com todos. 

Você encarnou nesse planeta e está sujeito a esses golpes de amargura, faz parte do jogo para a humanidade nesse ciclo do tempo. Aqui é assim, ainda se aprende através do sofrimento. Ainda é assim e só tem uma saída para você: aceitar. Se você não aceita, você se identifica e começa a afundar. 

Se você aceita: “ok, cai.”. Caiu, levante-se. Você solta isso na sua mente, porque é na mente que está a possibilidade de você subir ou descer. Você sobe ou desce conforme você segue os pensamentos. 

Por exemplo, se você dá atenção para esse eu que está dizendo que você foi uma vítima, que o mundo foi injusto com você, e pode ter sido, mas se você ficar identificado com esse pensamento, você só vai afundando. Você entra num círculo vicioso, que também é autoperpetuador, e vai descendo. Esse descer também é infinito. 

O movimento ascendente é autoperpetuador e infinito, o descente também é autoperpetuador e infinito. Às vezes você vai afundando, afundando, afundando e parece que não tem como sofrer mais, e aí você sofre mais ainda. Pode sofrer mais se você não interromper isso. É você quem pode interromper, você, Arjuna. O observador tem que pegar a suas armas internas, e a batalha, em síntese, é deixar ir o pensamento e voltar para o presente. 

Percebe, então, que o sofrimento é um jogo da mente? Que pode, sim, ter registros no corpo físico. Nesse caso, pode envolver um trabalho extra, que é a liberação dos sentimentos, da energia parada no seu corpo. 

Eu já falei bastante sobre isso nos dias anteriores. O sofrimento nasce na sua mente. Nasce com a divisão e a contradição, mas se você volta para o presente, não tem sofrimento. 

A contradição sempre se vale do passado ou do futuro, perceba. Às vezes é sutil. Às vezes é bem sutil. Mas foi um pensamentozinho, um pensamento que te levou e te contou uma historiazinha sobre amanhã, ou que te contou uma historiazinha sobre ontem. Sempre. E a história sempre tem uma contradição, sempre tem uma parte sua querendo ir para um lado e uma parte querendo ir para outro. 

Assim nasce o sofrimento. Percebeu isso? Respira e solta. Volte para o momento presente. Para isso, você vai ter que abrir mão do prazer negativamente orientado de ficar pensando, pensando, pensando, sofrendo, sofrendo e sofrendo. 

Tem algo maior para você. Por mais que nesse momento você não tenha tanta certeza disso. Mas, no mínimo, um vislumbre você teve, senão você não estaria aqui. Você está aqui porque você teve, pelo menos, um vislumbre desse algo maior, do Krishna que te habita. 

Vamos seguir praticando o yoga. Vamos seguir nesse trabalho de nos tornarmos senhor da própria mente. 

“Cadê eu? cadê eu? 

Cadê eu, aonde está? 

Harmonizado estou em tudo,

 sigo firme, vamos caminhar.”

Eu estou em tudo. Eu falo em todas as bocas. Aqui fora somos muitos, mas dentro somos um só. O eu divino é um, o eu inferior é múltiplo. O eu divino é um. Um só amor, uma só verdade. Rezo para que você compreenda. 

Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos sustentar a divina presença.

Até um próximo encontro.

NAMASTE