Blog

O mestre do amor Prem Baba explica como somos influenciados pelo karma e pelo ego, criando julgamentos sem fundamento e experimentando verdadeiras armadilhas

PREM BABA ENSINA POR QUE NÃO DEVEMOS JULGAR PESSOAS PELAS APARÊNCIAS

October 26, 2020

Prem Baba, por que aparentemente tantas pessoas más se dão bem na vida?

Prem Baba: Vou te responder com outra pergunta: o que é se dar bem na vida? Ter dinheiro, poder, fama? É isso que significa se dar bem na vida para você? "

Se for isso, vamos fazer juntos uma reflexão. Será que é verdade que uma pessoa com dinheiro, poder e fama está se dando bem? Pode ser que sim, mas pode ser que não.

Sob meu ponto de vista, se dar bem significa ter paz na mente e no coração. Nesse sentido, a paz pode estar na mente e no coração tanto de pessoas que possuem posses materiais como daquelas que não possuem. A felicidade não depende daquilo que você tem. A felicidade não está fora e não depende do que está fora.

Mas eu compreendo o questionamento, porque essa crença de que a felicidade depende de conquistas materiais está profundamente enraizada no ser humano. A felicidade, porém, depende de outras coisas. É um estado de espírito que está relacionado aos princípios dos mundos internos. Talvez, o mais conhecido, desses princípios seja o karma.

O que é Karma?

Prem Baba: Em primeiro lugar é importante falarmos que no ocidente o karma foi interpretado equivocadamente. Ele foi relacionado a um atributo moral, mas ele diz respeito à mecânica da ação e reação.

Eventualmente, podemos usar como exemplo uma lei do físico e matemático Isaac Newton. A terceira lei de Newton afirma que, a toda ação, corresponde uma reação de igual intensidade, mas que atua no sentido oposto. A força é resultado da interação entre os corpos, ou seja, um corpo produz a força e outro corpo recebe-a.

Ou seja, as ações são iguais e em sentidos contrários. Inegavelmente cada ação produz uma reação e os desdobramentos são infinitos. Portanto, é correto afirmar que cada um de nós está vivendo aquilo que precisa viver. Cada um tem aquilo que precisa ter para poder aprender aquilo que precisa ser aprendido. Você vai aprendendo a jogar o jogo da vida.

Prem Baba, o senhor pode dar algum exemplo?

Prem Baba: Sim, eu gosto de contar passagens de texto que exemplificam algumas situações. No livro “Autobiografia de um Yogue”, escrito pelo iogue indiano Paramahansa Yogananda em 1946, ele fala sobre a experiência de Lahiri Mahashaya. Antes de completar o seu jogo e se entregar a vida espiritual, tinha um desejo a ser realizado: ele queria viver em um palácio. Baba ji, então, deu a ele esse palácio. Ele viveu em um palácio cravejado de pedras preciosas, realizou seu desejo e disse: “Ok, agora não preciso mais disso”.

Cada um de nós tem seus anseios e desejos e certamente há um propósito neles. Por isso, devemos estar muito atentos aos julgamentos. Quando você julga, você não está vendo o que está acontecendo com aquela alma, nem o que ela está precisando naquele momento da jornada.

Outro exemplo que acredito ser adequado é o do Rei Jorge da Inglaterra. Certa vez, ele estava em um momento de busca espiritual e foi para a Índia. Indicaram a ele o santo Katcha Baba, um homem simples que vivia em um lugar simples. O Rei perguntou a ele o que poderia fazer por ele, o que poderia lhe dar e forma de agradecimento. Katcha Baba perguntou o que seria essa oferta. Sem modéstia, o Rei respondeu que poderia lhe dar qualquer coisa, afinal era o Rei da Inglaterra. Katcha Baba respondeu: “Mas o seu reino é só um pedaço pequenino dentro do meu e se tem alguém que tem algo para dar, sou eu.” Baba quebrou o ego do Rei e ali houve uma oportunidade e floresceu um relacionamento verdadeiro.

Mestre, agora eu me perdi. Misturamos tudo, se dar bem na vida, karma, julgamento e ego, podemos recapitular?

Prem Baba: Claro, vamos lá. Em primeiro lugar, é importante entender que temos muitas variáveis em jogo, e que não sabemos o que é certo ou errado, verdade ou mentira.

Eu não compartilho da crença de que as pessoas más se dão bem na vida. Uma pessoa má não tem amigos, tem cúmplices. Se não há amizade e relacionamento verdadeiro fluindo pelo corpo, não há amor na vida; e vida sem amor é uma vida árida.

Por conta do nosso sistema de crenças, nós julgamos e comparamos. A mente é a louca da casa. Faz a festa e te joga para lá e para cá. Talvez essa pessoa que você julga que esteja bem na vida, na verdade, esteja passando por desafios que você não faz ideia.

São pessoas que precisam de oração e de muito amor. Se de fato está acontecendo, não sabemos, pois, essa é a nossa visão e é fruto do nosso julgamento. Só um mestre acordado pode enxergar se a pessoa está se dando bem ou não porque vê além das aparências. Ele vê o jogo kármico se passando na superfície e nós nos distraímos com esse jogo. A gente vê, no máximo, a casca.

Prem Baba, e onde entra o ego nessa história?

Prem Baba: Eu chego lá. Precisamos olhar além da casca. Surpreendentemente, só olhamos além da casca se tivermos um mínimo de aceitação dentro de nós. Tem de ter um grau de humildade para poder aceitar o jogo de forma que você possa sair do nível do ego e olhar de cima o que está se passando.

Ademais, se olhar de cima você verá que está tudo absolutamente certo, mesmo quando no nível do ego estiver absolutamente errado. No nível do ego, certo ou errado depende das suas crenças. Assim, mais uma vez repito que nem tudo em que você acredita é verdade.

Sempre que estiver se afligindo com o seu julgamento, procure observar quem em você está julgando, de onde nasce o julgamento, e questione se isso é verdade e se você acredita que é verdade.

Esses dias, um rapaz veio até mim, Prem Baba, contando que foi iniciado no processo de autoconhecimento. Depois de uma experiência, ele chegou à conclusão de que não sabia de nada. “Eu experienciei que só sei que nada sei”. Então eu disse: Aleluia! Você colocou o pé no caminho.

Prem Baba, e quando essa felicidade com que alguns se incomodam é a nossa? Como se manter em estado de felicidade sem causar estranheza à nossa volta? Como lidar com isso?

Prem Baba: Não se preocupando com isso. Assim como você está dando o seu melhor para se libertar de julgar os outros, tem de dar o seu melhor para se libertar da influência do julgamento do outro. Observe que a felicidade, quando chega, precisa de espaço.

É possível que esse fato realmente incomode alguns. Inegavelmente a felicidade incomoda os infelizes e você vai ter de lidar com isso. Talvez, algumas pessoas fiquem com raiva, com inveja da sua felicidade. Portanto, nessa hora, você precisa estar muito atento porque, a menor falta de cuidado pode fazer com que você comece a se achar ‘o feliz’. Posteriormente, a acreditar que o outro é infeliz. E com isso, você vai perdendo a sua felicidade. É rápido assim!

O ego é muito astuto. Ele te pega em um cochilo. Como diz o caboclo: “Cochilou, o cachimbo cai”.

E o que fazer quando caímos?

Prem Baba: Não tem problema. Às vezes, é um cochilinho de nada, mas acontece. No mundo não tem pequeno ou grande. Não é errado cair.

Afinal, uma criança aprendendo caminhar cai. Portanto, tenha cuidado. Porque você pode se exigir uma perfeição que não tem para dar.

Esse é outro aspecto da astúcia do ego: ele começa exigir que você não erre, que não caia jamais. É necessário aceitar suas imperfeições. Apenas quando puder aceitá-las, sem querer estar acima delas, é que poderá de fato transcendê-las.

Com toda a certeza muitas coisas desaparecem quando você silencia e se coloca presente no aqui e agora. Da mesma forma, durante essa jornada você percebe que aqui e agora não existem, nem mesmo eu, nem você. A dualidade desaparece. Tudo é Satchitanada, existência, consciência e êxtase. Isso é o definitivo, não morre, não queima com o fogo, não se molha com a água, não envelhece, não adoece. Não está sujeito ao jogo de Mahamaya, à grande ilusão cósmica. Dessa maneira, não há desejo nem escada para subir, os degraus desaparecem. Aquilo que você faz desse lugar é o amor em movimento. É isso, somente isso.

Em outro artigo, o mestre do amor Sri Prem Baba fala sobre o propósito e como se conectar a ele. Afinal, em algum momento da nossa jornada aqui no planeta, é natural um questionamento sobre a razão de existir. Aliás, quem já não acordou se perguntando qual o sentido da vida? E o que realmente nos motiva? Venha conferir mais sobre o tema neste texto.

*Crédito das imagens Adriana Bittar