Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.
Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.
Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.
O amor é permanente. É um aspecto da natureza do Ser, assim como um aspecto do sol é iluminar e aquecer a todos. O amor tornou-se um desconhecido e tem sido confundido com emoções como paixão, dependência, egoísmo, ódio. Se você não conhece o amor é porque está apegado aos pensamentos sobre o que é o amor. A gratidão abre o caminho para o amor. Os desafios são oportunidades. Tudo é Deus. Maya tem o poder de fazer acreditar que o falso é real. É por conta dos sentimentos reprimidos que a falsa identidade se mantém. Quando você se desidentifica dos papéis desempenhados pelas personagens da sua família, você se emancipa do seu lugar dentro dessas relações e pode então estar junto por amor e amizade. Para desidentificar é preciso mover-se em direção ao perdão, através da compreensão. Olhar de frente para essas relações. O darshan é um fenômeno muito poderoso. É preciso guardar o silêncio antes e depois do satsang.
Sri Prem Baba: Eu lhe convido a fechar os olhos por um instante. Alinhe o corpo, mas sem rigidez. Relaxe o corpo, especialmente os ombros, o rosto. Faça algumas respirações conscientes pelas narinas. Inspire e expire suave e profundamente e a cada expiração deixe ir todo o pensamento. Permita-se retornar para o momento presente.
Lentamente abra os olhos, se assim você quiser, e vamos seguir com nosso estudo fino a respeito dos mistérios da vida.
Pergunta: Babaji, você disse que o sofrimento vem do apego ao que é impermanente, como as emoções. E o amor? Também é impermanente?
Sri Prem Baba: Não. O amor é o que você é, ou uma dimensão daquilo que você é. É uma expressão daquilo que você é, um aspecto da natureza do Ser, assim como um aspecto da natureza do sol é aquecer, iluminar.
Aconteça o que acontecer, o sol está sempre iluminando, não existem condições para ele iluminar e aquecer, ele ilumina as pessoas boas e más, as pessoas que tem bons ou maus hábitos, as pessoas ricas, as pessoas pobres, homens, mulheres de todas as idades, ilumina e aquece toda natureza. Você pode um dia se revoltar contra o sol, pode ficar de mal com o sol, mas isso não vai impedir que o sol continue te iluminando e aquecendo.
Essa é uma metáfora de como o amor se manifesta. Ele é sempre o mesmo. Eu amo você não porque você me trata de um jeito ou do outro, eu te amo porque eu sou o amor. Se você compreende isso e se torna vulnerável a esse amor, existe uma sinergia, existe uma comunhão e você saboreia esse néctar. Se você se opõe, se você resiste, se você se fecha para esse amor, esse é um problema seu, faz parte do seu processo evolutivo, faz parte do seu desafio nessa jornada, mas o fato de você estar fechado não impede que o amor continue fluindo na sua direção; mas você não vai senti-lo, não vai percebe-lo e experimentar a comunhão.
Mas eu compreendo a sua dúvida. Porque o amor acabou se tornando esotérico, acabou se tornando desconhecido, infelizmente. Temos tomado o falso como real. Temos tomado muitas emoções impermanentes como sendo o amor. Confundimos amor com paixão, amor com sexo. Confundimos amor com dependência, com egoísmo. Confundimos o amor até mesmo com o ódio. É por isso que surge essa pergunta. Porque, em outras palavras, é como se você estivesse perguntando: “o que é o amor?”, porque você não o conhece. Se você acredita que ele é impermanente, é porque você não o conhece. Isso é muito lamentável – você estar nesse momento da sua jornada evolutiva e não ter tido a chance de sentir a fragrância do amor.
Se é uma dimensão do Ser, se é uma manifestação do seu eu real, então significa que você está inconsciente desse eu real. Se o amor é a respiração da vida, você está morrendo asfixiado sem saber. Se o amor é a seiva da vida, você está desconectado da sua essência sem saber. Está, então, apegado ou identificado com aquilo que é impermanente, como pensamentos a respeito do que é o amor, a respeito da sua identidade.
O amor é completamente impessoal e desinteressado. Esse amor, ele está aí, em algum lugar, dentro de você. Às vezes ele se manifesta. É muito raro que o amor esteja completamente encoberto durante toda a sua vida. Às vezes ele surge. Às vezes, você sente amor por um animal, por um cachorrinho. Às vezes você sente um rompante de amor por um momento na natureza.
Geralmente, quem abre o caminho para o amor é a gratidão. Quando você se sente grato, o coração se abre. A gratidão é uma dimensão do amor, mas, muitas vezes, se faz necessário muito trabalho sobre si mesmo para poder desvendar o amor, se faz necessário muito trabalho sobre si mesmo para sustentar o coração aberto a ponto de se identificar completamente com o amor, sentir o amor e poder amar a todos, independentemente de qualquer coisa.
Esses são os desafios da jornada. Desvendar o amor, ou acordar o amor. Para acordar o amor, você precisa desvendá-lo, remover as capas que o encobrem. As capas são criadas por pensamentos, os quais são impermanentes, mas com os quais você acaba se identificando e, às vezes, a identificação é tão poderosa que você acredita que a ilusão é real.
Maya é um grande poder. Para encobrir a verdade, para encobrir o amor, tem que ser um grande poder. Esse poder não é qualquer coisa. Faz-se necessário respeitá-lo também. Eu vejo Maya como a treinadora psicológica que está a serviço, exatamente, de te ajudar a discernir. Eu prefiro ver dessa maneira, escolho ver dessa maneira. Eu escolho ver os desafios como oportunidades de crescimento. Escolho compreender que tudo é obra de Deus.
Eu ouvi uma história sobre o Maharaji. Diz que, certa vez, ele foi visitar uma família com os devotos – e o Maharaji não tomava café preto – chegando à casa, a família serviu café preto para ele. Um dos devotos que estava a serviço dele disse: “Não, não, o Maharaji não toma café”. E o Maharaji interrompeu o devoto e disse: “Eu nunca recuso aquilo que Deus põe na minha frente”.
Eu escolho enxergar Deus em tudo. Eu vejo Maya como uma professora, mas é difícil de aprender a lição dessa professora, muito difícil. Estão lembrados do exemplo que eu trouxe dias atrás, quando eu contei a história de Narad? Quando Vishnu fez Narad compreender o que é Maya. É muito convincente, muito convincente, Maya é muito convincente; ela tem o poder mesmo de fazer você acreditar que o falso é real.
Pergunta: Querido Prem Baba, eu tenho 56 anos e só agora percebi que estou vivendo a fase de adolescente. A revoltada, rebelde. Gostaria de saber que ferramenta eu preciso para crescer e me tornar uma adulta e me desidentificar do meu papel de mocinha rebelde e metida à palmatória do mundo.
Sri Prem Baba: Eu não entendi bem também o que seria isso – metida à palmatória do mundo. Acredito que seja querer fazer justiça. Você acredita que você é uma adolescente e é óbvio que essa identificação tem base na sua história. É claro que você está identificada com a história de ser uma filha. E uma filha que passou por poucas e boas, porque se não tivesse passado por poucas e boas, você não estaria até hoje identificada com essa rebelde.
Você está identificada com a ideia de ser uma filha que foi humilhada, que foi maltratada e assim sucessivamente. Se você é uma filha, você tem uma mãe, você tem um pai, talvez tenha irmãos e com cada qual tem uma história. Essa história não é convincente? Não é convincente? Você pode até pensar: mas como assim, Baba? Eu não sou realmente uma filha? Eu não tenho uma mãe? Não fui mesmo maltratada, humilhada?
Até certo ponto, sim, a sua personalidade sofreu esses impactos, mas você é sua personalidade? Você pode mudar de nome. O seu corpo muda - quando era criança, era de um jeito; adolescente era de outro; adulto de outro e quando envelhece, é outro. Tudo isso é impermanente, então não é você. Mas, você está identificado com uma personagem da sua história, que você acredita que é permanente.
Você está apegada a uma personagem por conta dos choques que você viveu, dos sentimentos que foram gerados e que foram reprimidos, que foram suprimidos. E aí você me pergunta: "Que ferramentas eu preciso para crescer?" Tudo aquilo que você poder utilizar e que te ajude a reparar as relações com a sua família - seu pai, sua mãe, seus irmãos - de maneira que você possa esquecer que você é uma filha, ou melhor, de maneira que você possa se desidentificar dessa ideia de ser uma filha.
Se você hoje não pode se desidentificar, é porque tem ainda muito sentimento reprimido. Por conta disso você se segura nessa falsa identidade. Quem é essa adolescente rebelde? É uma filha que, de alguma maneira, tem motivos para brigar. Você briga com quem? Quem são as pessoas que te provocam? Quem são as pessoas que acordam a sua raiva, revolta ou rebeldia? Você vai ver que são pessoas que, de alguma forma, lembram os seus pais ou seus irmãos; alguém da sua história com quem você ainda não pôde chegar a um acordo.
Esse é o principal mecanismo de Maya. É aí que está o poder dela. É o que faz você permanecer encantado com a ideia de ser uma filha, depois uma mãe, um pai. E, muitas vezes, a identificação com esses papéis é uma limitação para você se sentir amigo. É só quando começa a se sentir amigo do seu pai, da sua mãe, dos seus irmãos, da sua família, que você começa a se desidentificar dessa ideia de ser uma filha, ser um pai, ser uma mãe e passa a ver o outro seu amigo também.
Claro que você nunca deixa de ser filho, pai, mãe, irmão. Mas, quando você se liberta da identificação com os papéis desempenhados pelas pessoas da sua família, você emancipa os lugares dessas pessoas na sua vida e você emancipa o seu lugar dentro dessas relações. Aí você está junto por amor, está junto por amor e não mais pela dependência ou para repetir um padrão negativo, gerado pela identificação com alguém que se sentiu machucado, ofendido, desrespeitado.
O que você pode fazer, para poder se desidentificar dessa rebelde, é mover-se em direção ao perdão. E você só se move em direção ao perdão através da compreensão. E, para compreender, você precisa olhar, se envolver. Nesse caso, eu sugiro para que você olhe de frente para essas pessoas que compõe a sua constelação familiar e veja o que você sente. Olhe nos olhos de cada um, dentro de você, e observe: O que você sente?
Não tem como escapar do seu ponto de trabalho.
Ontem mesmo, eu estava cuidando de uma pessoa que veio para mim dez anos atrás querendo se iluminar. Eu vi que, para ele se iluminar, teria que curar uma ferida que ele tinha em relação à mãe e que, para poder curar essa ferida com a mãe, ele teria que se relacionar com o feminino, com as mulheres. Ele tinha muita dificuldade de se relacionar com as mulheres, mas ele compreendeu a lógica do que eu estava ensinando e se abriu para um relacionamento.
Quando ele foi namorar com essa moça, foi tão intenso, tão forte, que numa noite de sexo com essa moça, ele se sentiu completamente exaurido e perdeu até mesmo a força para caminhar. Ele se sentiu totalmente quebrado e obviamente que a partir dali se fechou 100% para as mulheres. Ele aumentou o pavor de mulher e de sexo.
Na época, eu disse para ele: “Isso precisa continuar, porque a raiz disso é a sua história com a sua mãe”. Mas ele não conseguia mexer nisso na época e também porque ele não conseguia ver essa relação de causa e efeito. Ele acabou colocando toda a energia dele na meditação para alcançar a iluminação. Ele se dedicou a ficar em silêncio e, em um retiro, em Tiruvandamalai, ele teve um insight: o que o impedia de se iluminar era a história dele com a mãe. Isso, oito anos depois. E isso porque, embora hoje ele tenha sessenta anos e a mãe oitenta e cinco, ela ainda bate nele. Até hoje a mãe bate nele. Se ele tenta se aproximar dela, ela bate nele fisicamente. Mas hoje ele conseguiu compreender que não vai se iluminar enquanto não resolver isso com a mãe. Ele entendeu e, agora, ele pode se mover em direção à iluminação.
Antes, todo tempo em busca da iluminação foi praticamente um desperdício. Acredita? É verdade, a gente pode desperdiçar tempo. Claro que um desperdício entre aspas, porque era um tempo de maturação, que até então ele não dava conta de lidar com algo tão difícil. Precisou de tempo para maturar e ele conseguir olhar para isso de frente.
Ou seja, para poder se desidentificar da ideia de ser um filho, se iluminar e ir além dessa falsa identidade, você tem que reparar as feridas do filho. De alguma maneira, você tem que conseguir se desidentificar.
Desidentificar-se não significa fingir que aquilo não existe. Você colocar a história com a sua mãe debaixo do tapete não vai eliminar todos os sintomas, porque você continua identificado. Você se tornar indiferente em relação à mãe, no caso desse exemplo, não vai te libertar dela.
O que te liberta dela é você poder enxergar que ela está agindo da forma que ela está agindo, com toda a estupidez, com toda a ignorância, porque ela está louca, totalmente identificada com a história dela. Ela está atuando na loucura dela, não é com você. Mas você acredita que é com você.
Olha só como Maya é complexa e astuta. Claro que para poder se desidentificar dessa ideia de que foi um filho tão desrespeitado, tão humilhado por esta mãe, vai ter que primeiro liberar os sentimentos que estão guardados. Ele passou todos esses anos preso àquela namorada, cheio de sentimentos confusos - ódio, vingança, paixão - porque tudo se mistura. E parece até que o problema estava com a namorada, mas que nada, era só projeção. É obvio que uma história tão profunda com a mãe, nesse caso, é algo que está além da biografia.
O que você pode fazer para se ajudar é olhar para esses sentimentos guardados dentro de você em relação às pessoas da sua família. Você precisa libertar essas pessoas para poder se libertar. É impressionante como esse núcleo de identificação se desdobra. Por conta dessas suas misérias da infância, da sua adolescência, você continua reproduzindo isso hoje, aqui e agora - não no aqui e agora eternos - mas nas situações de vida.
Você começa a machucar pessoas e se machuca mais ainda. Você vai criando mais maus karmas, porque tudo o que você faz para o outro volta para você. Você maltrata o outro e vai ser maltratado; se desrespeita o outro, vai ser desrespeitado. E aí você vai se entranhando cada vez mais e mais na ilusão. Isso precisa ser rompido. Mas esse rompimento está acontecendo, porque você está vendo, está tomando consciência que tem uma identificação com uma adolescente rebelde e revoltada, embora você tenha 56 anos. Reconhecer essa atuação é uma medida de sucesso.
Pergunta: Amado Guruji. Depois dos cinco minutos de silêncio após o satsang, é pedido para sairmos do hall em silêncio, mas muitas pessoas começam a falar baixinho, criando muito barulho. Porque eu espero pelo silêncio para continuar, para manter o espírito dos seus ensinamentos comigo, mas também sei que tenho a máscara da boa garota que está sempre seguindo as regras alegremente. Então, talvez eu esteja sentindo inveja das pessoas que alegremente não seguem as regras. Mas o que eu realmente quero com essa pergunta é que você diga para o sangha se comportar e ficar em silêncio após o satsang. Pode falar sobre isso?
Sri Prem Baba: É muito importante o silêncio após o satsang. De tempos em tempos, eu relembro para você não subestimar o fenômeno que está acontecendo neste salão. Tem um fenômeno mágico acontecendo aqui. O darshan é um fenômeno muito poderoso. Você está sendo trabalhado em níveis que a mente não acompanha.
Tem muita coisa acontecendo com você, mas se você se põe a falar logo que eu saio do salão, essa energia que eu estou lhe dando volta para mim e o processo é interrompido. O melhor é que depois da minha saída você se recolha. Os cinco minutos sugeridos é só para apontar uma direção, mas o ideal é que você saia quietinha. Algumas pessoas vão precisar mais tempo para integrar tudo o que está se passando com ela, vai precisar se sentar num lugar aí e ficar quietinha, até integrar tudo. Isso é bem importante.
Estou lembrando que esse momento de silêncio também é importante no início, quando vocês estão se preparando para me receber e também depois quando eu termino a fala e começa a música, muitas vezes inicia muita falação, especialmente quando eu abro o pranam para receber algumas pessoas e aí ocorre uma agitação que acaba também, muitas vezes, interrompendo o processo. É importante estar atento nesses momentos de forma que você possa absorver aquilo que lhe está sendo dado. Isso é bem lembrado.
Recebi a notícia de que hoje a Meera, uma sanyasin do Osho, deixou o corpo. Uma grande alma que trabalhou muito para acordar o amor. Eu senti de a gente fazer uma homenagem para ela. As grandes almas merecem essas homenagens quando deixam o corpo como um aplauso pelo serviço oferecido e um agradecimento pela contribuição. Ela trabalhava para acordar o amor através da arte. Eu sinto que a gente pode fazer uma homenagem através da arte, não artes plásticas porque não temos instrumentos para isso aqui, mas podemos fazer através da arte musical. Quero propor uma vivência:
Um de vocês, que pode ser Jitendra, vai dar passagem para um acorde musical, algo que vai surgir, intuitivo, espontâneo, vindo do céu do seu coração. Deixa isso crescer e aí nós vamos entrar nessa sintonia e vamos dar passagem para esse mesmo acorde musical, através da voz, do corpo, vamos juntos criar uma canção, sem palavra, com palavra, não importa. O que importa é que não venha da cabeça, tem que vir do coração. Você não sabe o que é e nem como vai ser. Não tenta controlar. O que nós precisamos simplesmente é de um instante de silêncio, porque tudo que é verdadeiro nasce do silêncio. Aí os outros músicos vão entrando e assim quando você sente a energia passando por você, dá passagem para ela e vai deixando acontecer. É um espaço para a criatividade, um espaço para o amor se manifestar através da música, do corpo, dos instrumentos e é uma forma de a gente prestar essa reverência e agradecer a Meera pela jornada dela aqui na Terra.
Vamos silenciar.
(Após a vivência, Sri Prem Baba pede para passar as pessoas doentes para o pranam)
Os corpos de muitos estão sofrendo com o impacto da vida. A saúde também é um mistério, porque a saúde também é Deus; e Deus é um mistério. Tem uns beija-flores de cura comigo e, de vez em quando, eles vêm.
Abençoado seja cada um de vocês. Que sejamos merecedores das santas curas. Até um próximo encontro.
NAMASTE.