A filosofia de René Descartes, especialmente seu famoso postulado "Penso, logo existo", marcou profundamente o desenvolvimento da ciência e moldou nossa sociedade contemporânea. A capacidade de duvidar e a subsequente afirmação da existência através do pensamento foram revolucionárias, lançando as bases para o racionalismo e o método científico. No entanto, embora esses avanços tenham sido essenciais para a evolução do conhecimento humano, eles também têm suas limitações, especialmente quando aplicados à espiritualidade.
por Sri Prem Baba
A filosofia de René Descartes, especialmente seu famoso postulado "Penso, logo existo", marcou profundamente o desenvolvimento da ciência e moldou nossa sociedade contemporânea. A capacidade de duvidar e a subsequente afirmação da existência através do pensamento foram revolucionárias, lançando as bases para o racionalismo e o método científico. No entanto, embora esses avanços tenham sido essenciais para a evolução do conhecimento humano, eles também têm suas limitações, especialmente quando aplicados à espiritualidade.
A habilidade de pensar é, sem dúvida, uma das maiores façanhas da condição humana. Podemos resolver problemas complexos, inovar e entender o mundo material ao nosso redor. Contudo, a identificação excessiva com nossos pensamentos pode nos aprisionar em uma realidade limitada ao tangível, ao mensurável, ao material. Quando acreditamos ser apenas nossos pensamentos, perdemos contato com a vastidão de nosso ser verdadeiro, que transcende a matéria e o intelecto.
Nesse contexto, práticas como a meditação e o cultivo do silêncio são ferramentas vitais para nos reconectarmos com uma dimensão de existência mais profunda. Ao aquietarmos a mente, podemos vislumbrar e experienciar o que está além dos pensamentos — uma realidade mais sutil, mas infinitamente mais vasta e rica.
Patanjali, em seus Yoga Sutras, enfatiza que o objetivo do Yoga é cessar as flutuações da mente. Ao atingir esse estado de vazio, preenchido pela presença divina, descobrimos o que realmente existe — um contraponto direto ao pensamento cartesiano. Segundo Descartes, nossa existência é afirmada pelo pensamento. Em contraste, a espiritualidade nos ensina que o que consideramos existir, baseado na premissa do pensamento, é, na verdade, transitório e efêmero.
Os caminhos espirituais verdadeiros nos convidam a explorar o perene, aquilo que existe além dos limites da mente pensante. O silêncio, nesse sentido, não é mera ausência de som, mas uma poderosa ferramenta de transformação e conhecimento. No silêncio, encontramos a essência do que somos, imutável e eterna, contrastando com a natureza efêmera de nossos pensamentos.
Encorajo, portanto, cada um de vocês a se aventurarem além dos limites do pensamento. Nutrir a mente discernidora — Buddhi, em sânscrito — significa permitir que essa faceta mais elevada da mente guie nossa experiência, utilizando o intelecto quando necessário, mas não sendo dominado por ele. Ao fazer isso, não apenas transcendemos a visão materialista da vida, mas também nos abrimos para a plenitude do ser, onde a verdadeira sabedoria reside.
Enquanto reconhecemos e valorizamos as contribuições de Descartes para o desenvolvimento da ciência e da sociedade, é crucial lembrar que a jornada espiritual requer que transcendamos a lógica cartesiana. Ao fazer isso, desbravamos caminhos para uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do Universo, um entendimento que reside não no pensamento, mas na experiência direta do Divino. Na espiritualidade a lógica mais correta é "Não penso, logo encontro a Verdade".