Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

A Realização do Yoga Dentro de Você
Acordar o amor. A importância do Yoga no mundo atual. Festival de Yoga. Objetivos do Yoga. O amor como antídoto para o medo e para a violência. Escolhendo não alimentar o mal. Autoconhecimento, cultivo do silêncio e auto-observação. Autorresponsabilidade e compaixão. Não se identificar com o que é impermanente. Valores humanos como dimensões do amor. Disciplinar a mente e ativar a Presença. Do círculo vicioso ao círculo virtuoso, através do autoconhecimento.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
5/3/2017

Sri Prem Baba: Agradeço essa tão generosa e gentil recepção. Me sinto honrado por estar aqui com vocês e de participar desse fenômeno que está ocorrendo nesta cidade, o fenômeno de propagação do Yoga. É realmente incrível e maravilhoso que num momento como este no mundo, onde estamos lidando com tão severos desafios, nós estejamos aqui tão empenhados em criar união, que estejamos aqui tão empenhados em aprender como viver de uma forma harmônica uns com os outros, como nos relacionarmos de uma forma construtiva, como ser canal da justiça, da verdade, do amor, da alegria, da prosperidade, da saúde e de tudo aquilo que é bom. Eu sinto que é uma grande benção poder estar aqui. Estou realmente feliz por estar aqui. 

É um grande mistério acordar o amor. Se tornou misterioso, embora no mais profundo seja aquilo que somos. Estamos aqui para reencontrar isso que de fato somos. Por caminhos tortuosos vamos sendo levados a nos lembrar que somos manifestações do amor divino. Por caminhos às vezes bastante desafiadores somos levados a questionar para quê nascemos, para quê de fato estamos aqui, e que destino podemos dar para os nossos dons e talentos. 

Meu coração transborda de gratidão por este lugar do planeta, cidade de Rishikesh, aos pés dos Himalaias, que guarda essa sabedoria ancestral. E possibilita que essa sabedoria ancestral se propague para todo o mundo. O que nos ajuda a manter a sanidade, a lucidez e nos ensina a discernir o real do irreal. 

Há pouco estava lendo uma carta de uma devota que está no Brasil, numa cidade do norte do país, que neste momento sofre um surto de violência, onde ela está tão fragilizada que não sabe discernir o que é certo e o que é errado. Porque, quando a pessoa se sente muito ameaçada, ela tende a tratar o mal com um mal ainda maior. É muito difícil amar quando você se sente ameaçado, porque o medo é o oposto do amor. Onde existe medo, não existe amor. Às vezes a violência é tão intensa que acorda um medo tão profundo que faz o amor se esconder, faz a pessoa não saber como lidar com as situações da vida, passando a acreditar que talvez a única solução seja uma violência ainda maior. 

Eu vejo que o Yoga pode ser um remédio para a violência, independentemente do tipo do Yoga, porque está nos ensinando o caminho de volta para o coração amoroso. Está nos levando de volta para a morada sagrada, onde se encontra nosso tesouro espiritual, que é esse amor infinito, capaz de amar até mesmo aquele que nos agride. Estamos aqui para encontrar esse amor que não se altera com o que acontece lá fora. Esse amor que é o mesmo, independentemente do que esteja acontecendo lá fora, independentemente de você estar sendo bem tratado ou maltratado. É muito fácil amar aquelas pessoas que não te ameaçam, que pensam como você, te agradam, te respeitam e te consideram. Difícil é amar aquelas pessoas que não te respeitam, que pensam diferente de você, que de alguma maneira te ameaçam, de alguma maneira acordam o medo em você. Parece que um ensinamento valioso é aquele que nos ajuda a compreender como não cair na armadilha dessas ameaças, como não cair na armadilha de ficar amedrontado ou de sentir-se inseguro quando o outro não corresponde às suas expectativas, quando o outro tem algum preconceito em relação a você e quando o outro, de alguma maneira, não gosta de você.

Eu percebo que um dos principais desafios é o fato de nós quereremos a todo custo sermos aceitos pelo outro, sermos amados e respeitados pelo outro. Nem sempre é possível. Você vai se deparar com pessoas que não gostam de você, não te respeitam e pensam bem diferente de você. E às vezes você vai se deparar com pessoas que te odeiam e têm preconceito em relação às suas escolhas, e vão de alguma maneira te atacar, mesmo que seja subliminarmente. Porque às vezes você não ouve um impropério, um maltrato, mas você sente no campo da energia. No campo da energia você sente que tem um fechamento para você, e às vezes isso é suficiente para você se sentir ameaçado e fechar o seu coração. Seu desafio é não cair nessa armadilha e compreender que aquele que por alguma razão está te julgando, e que no determinado momento não está podendo te amar, está perdido nas histórias dele, está perdido na ilusão criada pela mente dele. Esse desamor que emana do outro não pode ter o poder de fechar o seu coração, não pode ter o poder de fazer você se sentir inseguro, não pode ter o poder de fazer você se sentir ameaçado. Esse é o seu trabalho, esse é o seu desafio, fechar os ouvidos para o mal, fechar seus olhos para o mal. Não que você não esteja percebendo o mal, você está escolhendo não alimentar o mal.

Quer você esteja fazendo asana, pranayama, desenvolvendo concentração ou se especializando nas diferentes técnicas de meditação, não importa quais sejam as técnicas utilizadas, você está abrindo as portas para o amor. Esse amor que possibilita a ascensão para os níveis superiores. Algumas pessoas tentam fugir desse estágio do desenvolvimento humano e querem logo se tornar divinos. Mas antes de se tornar divino, você primeiro precisa ser humano, precisa manifestar valores humanos. Os valores humanos são dimensões do amor, como colaboração, cooperação, fraternidade, perdão, respeito, consideração e gratidão. 

Alguns dizem que esse planeta é a prisão máxima da galáxia, e dependendo do ângulo talvez possa ser visto dessa mentira, mas eu prefiro ver como uma escola, onde você está reaprendendo a amar, a acordar o amor. E você acorda o amor através do autoconhecimento, onde inevitavelmente você precisará tomar consciência dos aspectos da sua personalidade que fazem você cair na armadilha do medo, para poder superar isso. Podemos até resumir e dizer que todo o processo de autoconhecimento é uma maneira de superar o medo, porque o medo é o oposto do amor, é o que fecha o seu coração. Não estou me referindo ao instinto de preservação do corpo, eu me refiro a um condicionamento psicológico que faz você se sentir constantemente inseguro, e por conta disso você acaba ativando um ódio para se proteger. É esse círculo vicioso que precisa ser rompido. 

Autoconhecimento é o processo de descoberta daquilo que precisa ser transformado em você, para evitar que você caia no círculo vicioso e possa iluminar um círculo virtuoso, que se manifesta quando você revela sua verdadeira identidade. E autoconhecimento só pode se manifestar, se desenvolver e acontecer se você estiver também cultivando o silêncio. Então, eu te pergunto: Quem aqui hoje dedicou algum tempo para o cultivo do silêncio, dedicou um tempinho para a meditação ou simplesmente para a auto-observação? Levante a mão. Uou, Very Nice! Bahut Achchha! Muito bom! É isso. Essa disciplina precisa ser desenvolvida. Fico muito feliz que você esteja acordando essa disciplina, que você esteja diariamente podendo se recolher por um período para se auto-observar, silenciar internamente e, a partir daí, abrir caminho para o autoconhecimento, para que você possa compreender onde você está se colocando e porque você está se colocando. 

Pouco a pouco você vai descobrir o valor da autorresponsabilidade, que é um valor básico, é a pedra fundamental sobre o qual o edifício da consciência está edificado. Ao mesmo tempo deve ser muito bem compreendida para evitar que seja um obstáculo para a compaixão. Porque muitas vezes você acaba intelectualizando o conceito da autorresponsabilidade e, ao ver uma pessoa sofrendo, você fala: “Problema dela. Ela tem que se responsabilizar, cada um está onde se coloca. Prem Baba falou que cada um está onde se coloca”. E ainda sobra para mim. Autorresponsabilidade sempre vem com compaixão e sabedoria. Autorrespondabilidade é para que você possa compreender que você está onde você se coloca. Eu estou aqui onde eu me coloquei, eu escolhi vir aqui e sentar nesta cadeira. 

Cada um faz suas escolhas, conscientes ou inconscientes, esse talvez seja o ponto central do estudo da autorresponsabilidade. Se você não tem consciência, como pode se responsabilizar? O autoconhecimento vai te levar a compreender melhor isso, e aí você vai descobrir que talvez você não seja tão inconsciente como pensa. Talvez você seja semiconsciente. Talvez você não esteja totalmente consciente de que esteja escolhendo tratar um mal com um mal ainda maior, mas com um pouquinho de auto-observação vai perceber que tem uma parte em você que está escolhendo sim, tem uma parte em você que está escolhendo provocar o outro, que está escolhendo se colocar numa situação difícil. Você, em algum momento, se torna consciente de que está onde você se coloca. Mas isso não deve, de maneira nenhuma, te impedir de estender a mão para o outro que se colocou numa situação difícil, desde que o outro esteja aberto para você, tenha sinalizado esse pedido de ajuda. Eu estou dizendo isso, porque vejo que alguns usam esse aspecto do autoconhecimento para justificar sua frieza, para justificar seu egoísmo e seu desamor. O autoconhecimento vai te levar para esse lugar de conscientização da autorresponsabilidade, desde que você esteja criando um núcleo de silêncio dentro de você. Desse núcleo de silêncio vem tudo o que você precisa saber a seu respeito. Tudo o que você precisa saber sobre você vem desse núcleo de silêncio, desse núcleo de presença. Por isso eu estou insistentemente te convidando a se voltar para dentro, para disciplinar sua mente a fim de ativar esse núcleo interior que detém todas as respostas que você precisa. 

Eu lhe convido, mais uma vez, a fechar seus olhos e se recolher em silêncio por um instante. Respire suave e profundamente pelas narinas e a cada expiração permita se esvaziar de toda expectativa, de todo desejo. Permita-se relaxar no silêncio, relaxar no momento presente. Simplesmente testemunhe o fluxo da respiração, assim como você testemunha o fluxo dos pensamentos, emoções e sensações sem julgar ou criticar. Só assista. Deixe aquilo que é impermanente seguir seu fluxo. Deixe ir. Só assista, passivamente. Coloque o foco na escuta do silêncio e perceba que o silêncio é constantemente rompido por diversos sons. O silêncio é permanente e os diferentes sons são impermanentes. Foque sua atenção naquilo que é permanente e não permita que aquilo que é impermanente te perturbe, saiba que isso sempre vai passar. Quando sentir vontade abra seus olhos, mas perceba o poder desse exercício tão simples. Perceba como um instante de silêncio é suficiente para mudar sua mente e fazer você se lembrar do propósito maior da sua existência, que independentemente dos demais propósitos da sua alma, o propósito principal é você poder se identificar com aquilo que é permanente e não tentar reter ou se atrapalhar com aquilo que é impermanente. 

Voltemos ao exemplo dos relacionamentos, onde alguém às vezes te desrespeita ou não te considera. Isso é passageiro, é impermanente porque isso não vem do Eu permanente. Isso vem do falso eu. Quando você puder olhar para aquilo que é impermanente e não se identificar, você terá encontrado a saída do labirinto da mente. Em outras palavras, quando você não mais se deixar perturbar por aquilo que é impermanente, você pode sustentar o amor, pode sustentar o coração aberto e pode continuar a sua ascensão espiritual. Em algum momento você não mais se perturbará com o que é impermanente, que normalmente se manifesta através do outro com o qual você se relaciona na forma de desconsideração, desrespeito, desamor, etc. Quando isso vier: “Não é comigo. Isso é só um sonho ruim. Alô, alô, ei!”. Lembre-se de respirar, vá dar uma volta e solte esse pensamento que vem tentar fazer você acreditar que você é quem você não é, esse pensamento que vem acordar o medo e a insegurança, que vem acordar o falso eu em você. 

O que eu estou propondo é que você se torne especializado em identificar esses "eus" e não dê atenção para eles, e continue com o seu coração aberto. Talvez essa seja a interpretação, que podemos fazer nesse momento, do ensinamento dado pelo mestre Jesus sobre dar a outra face. É não se identificar com o mal. Olhe além e veja o bom no outro, veja a luz, mesmo que ela esteja bem escondida, porque às vezes está bem escondida. E às vezes está tão escondida que você nem consegue ficar perto. Ok, no problem, fique longe. É importante respeitar os seus limites. 

A ignorância no outro não pode ter o poder de despertar a ignorância em você. A ignorância no outro deve ser uma forma de acordar o amor em você. Ele está sofrendo porque está muito carente de amor. E você, se você pode dar, você dá. Se você não pode dar, pelo menos não se atrapalhe com o desamor do outro. Você já está num bom caminho se você consegue não se atrapalhar com a sombra do outro. 

É ou não é uma escola esse planeta? É uma escola que está te ensinando a andar aqui sem se machucar. Para isso você precisa aprender a estar presente em tudo. Excelente. 

Para alguns é mais fácil, para outros é mais difícil. Vamos seguindo, aprendendo a considerar em vez de querer ser considerado. Respeitando em vez de querer ser tão respeitado. Perdoando em vez de querer ser perdoado. Amando em vez de querer ser amado. E tudo isso acontece naturalmente quando você pode ser você mesmo, porque você é a fonte da consideração, do respeito, do perdão e do amor. Se você não está podendo manifestar isso é porque você saiu correndo atrás daquilo que é impermanente, você se identificou com aquilo que é impermanente e está sonhando, não está sabendo de você. É simples assim. 

Quando você está muito perdido em maya, lembre de respirar, feche os olhos, faça esse exercício que acabamos de fazer e volte para o centro. E assim vamos, até que você possa estabilizar esse centro. Até que você realize o Yoga dentro de você. Então você se torna um canal desse amor, dessa consideração, desse respeito e, onde você passa, você ilumina. Aí você canta: “Só por amor, muito amor é que expando essa luz. Só por amor, muito amor é que expando essa luz”. 

Vamos seguir cantando para esse amor poder se expandir para todos os lugares, todos os sentidos e direções. Parece difícil, mas não é. Achar difícil é um truque da mente. A verdade é muito simples. Às vezes, quando a mente acha muito difícil e cria mil teorias para explicar porque que ela não pode amar, aí a gente tem que complicar um pouco para explicar mil teorias porque ela pode amar. Mas a verdade é simples. Você é o amor.

Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos amar uns aos outros. Até um próximo encontro.

NAMASTE.