Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

O Despertar do Sonho de que Existem Inimigos
A dualidade é uma lei deste plano da existência e é a origem da ilusão de separação, da carência afetiva, do jogo de acusações e da ideia de que existem inimigos. A frustração faz parte da arquitetura deste plano. A ideia de que temos inimigos é uma grande distração que nos faz perder tempo. Estamos aqui para acordar desse sonho de separação e lembrarmos quem somos e o que viemos fazer. Espiritualidade prática – iluminação espiritual vem através da autorresponsabilidade e quando você aprende a ser amigo do seu irmão.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
25/2/2017

Sri Prem Baba: Eu lhe convido a fechar os olhos e se recolher em silêncio por um instante. Alinhe o corpo, coluna ereta e a cabeça no prolongamento da coluna. Ao mesmo tempo, o corpo relaxa o mais profundamente possível. Solte especialmente os ombros e o rosto. Respire de forma consciente. Inspire e expire suavemente pelas narinas e, a cada expiração, permita-se esvaziar de qualquer ansiedade ou desejo. Permita-se relaxar no presente momento. Coloque sua atenção na escuta do silêncio – o silêncio permanente que, muitas vezes, é rompido por diferentes sons, os quais são sempre impermanentes. Acolha aquilo que é impermanente sem se apegar, sem julgar ou criticar. Deixe passar. Você é como o céu que testemunha o passar das nuvens. 

Quando quiser, lentamente, abra os olhos mantendo o estado de atenção, de presença, de receptividade. 

Pergunta: Amado Guruji, você pode nos falar um pouco mais sobre a ideia de termos inimigos? 

Sri Prem Baba: Essa ideia é uma manifestação da natureza ilusória. As almas são atraídas para este plano com a intenção de experienciar a matéria, mas ao chegar aqui, inevitavelmente, são submetidas às leis deste plano. São muitas as leis deste plano, mas, talvez, a principal seja a dualidade. 

Ao encarnar neste plano, você precisa pagar o preço de ter a visão – a percepção da unidade – encoberta. Você se sente um eu separado da vida que se manifesta através de outros. Ao chegar aqui, para experienciar a matéria, você desenvolve um ego, cuja essência é uma ideia de eu – o eu separado do outro. Portanto, você é levado a acreditar que existe eu e você. Talvez esse seja o aspecto nuclear de Maya – a grande ilusão cósmica. Talvez esse seja o principal poder desse véu que encobre a nossa visão. E, desse núcleo de ilusão, se desdobram muitas outras subilusões, ou, podemos dizer, camadas e camadas de ilusão se desdobram a partir dessa ideia de dualidade. 

Esse processo começa a se tornar nefasto e absolutamente miserável quando, a partir dessa ideia de separação, você começa a ser tomado por um dos desdobramentos dela, que é acreditar ser uma vítima. você se sente uma vítima das dificuldades que passa, ou seja, você acredita existir um culpado pelo fato de estar passando por uma dificuldade. 

A partir da ideia de separação (e devido também a outras leis que se manifestam neste plano), inevitavelmente esse eu separado se machuca, porque a experiência aqui neste planeta tem seus momentos de prazer e alegria, assim como tem seus momentos de muita dor. Normalmente, um momento de prazer e alegria é o intervalo entre duas dores. Assim como uma rosa tem espinhos, o ser humano tem os seus e acaba espetando a si mesmo com eles. Porém, em algum momento, ele acaba sendo levado a acreditar que isso acontece por culpa de alguém. Isso faz parte da arquitetura deste plano. 

A criança chega aqui com a necessidade de receber amor exclusivo. Ela quer o amor do pai só para ela, o amor da mãe só para ela. Ela quer ser amada com exclusividade. Por isso, a frustração faz parte da arquitetura deste plano, já que é impossível receber amor exclusivo. E por causa dessa necessidade de amor exclusivo e da frustração que isso geral, logo cedo na vida, você começa a desenvolver a ideia de ter inimigos. E os primeiros inimigos, invariavelmente são seus pais, porque eles não puderam lhe dar o amor exclusivo que você queria. 

A partir daí, inicia o seu projeto de vingança, baseado em acusações. Você acusa o outro (no caso, seu pai e sua mãe) por não ter te amado com exclusividade. Mas, amar com exclusividade é impossível; então, mesmo que você tenha tido pais muito amorosos e conscientes, inevitavelmente sentirá frustração por não ter sido amado. São raros os pais realmente amorosos e relativamente conscientes – a maioria não tem nada para dar. A maioria está perdida na necessidade de cumprir o papel de mãe e de pai. Esses pais e mães sentem raiva de estar nessa condição e, muitas vezes, secretamente, desejam jogar a criança pela janela para se livrar do desafio que eles mesmos criaram. A criança sente essa raiva e isso aumenta ainda mais sua frustração. A frustração abre fendas no corpo emocional da criança, que acaba fazendo um pacto de vingança. Isso obviamente gera um círculo vicioso. 

Conforme se desenvolve psiquicamente, você aciona outro mecanismo que é também uma lei deste plano – o mecanismo da projeção. Esse mecanismo faz com que você constantemente projete nos outros as suas imagens do passado. Você projeta, no mundo à sua volta, aquelas pessoas que não te amaram e que foram a causa das suas primeiras frustrações.

Isso não quer dizer que você veja, de forma objetiva, o seu pai e sua mãe, quando olha para as pessoas com quem se relaciona. Mas, de forma subjetiva e inconsciente, você os vê com riqueza de detalhes. Mesmo sem ter consciência disso, você está projetando. 

Portanto, o jogo de acusações ou a ideia de ter inimigos é um dos mais insidiosos atributos do psiquismo humano. É, sem dúvida, uma das raízes do sofrimento neste plano. Mas, lembre-se, isso nasce de uma ilusão – a ilusão nuclear que faz com que você acredite ser separado do outro. A verdade é que, em última instância, o outro não existe; ele é uma projeção da sua interioridade. 

Eu sempre sugiro que, quando você acreditar que o outro é um inimigo, comece olhando quem, dentro de você, considera ser seu inimigo? Quem, dentro de você, é o inimigo que você está projetando no outro? Com quem você está brigando?

Essa ideia de termos inimigos é também uma das maiores distrações da nossa jornada. Ela tira de nós aquilo que temos de mais valioso – o tempo. O que temos de mais precioso neste plano é o tempo. Nessa vida, quando menos se espera, o jogo acaba, o tempo acaba. E, se você gasta esse pouco tempo que tem brigando com o outro e acreditando que ele é seu inimigo, acreditando que você é uma vítima e que existem razões para vingar-se, esse círculo vicioso vai desencadeando muitos outros desdobramentos. 

É preciso compreender que essa ideia de vítima é uma manifestação da natureza ilusória, mesmo quando o outro (dentro de sua própria ilusão) te faz mal de verdade. 

Existem muitas maneiras de fazer mal. E talvez a principal delas seja fazer o outro acreditar que ele não é capaz de amar. Dessa forma, o círculo vicioso se perpetua. Mas, mesmo que o outro esteja encantado com a sua própria história e, por conta disso, esteja fazendo mal de verdade para você, em algum momento, você precisará compreender que se colocou nesse lugar, movido pelo seu encantamento. Em algum momento, você verá que escolheu se colocar nesse lugar porque precisou validar sua história; porque precisou criar confirmações. Até mesmo a natureza ilusória tem uma inteligência. 

Por exemplo, se estiver vivendo a ilusão de ser inseguro e ciumento, você, inevitavelmente, atrairá pessoas que te ameaçarão e te trairão porque, dessa forma, você confirma a ideia de que é uma vítima e que não dá conta da vida. Olha o círculo vicioso de novo. 

Estamos aqui para acordar desse sonho e para relembrar que somos seres espirituais. Lembrar que somos seres de luz que escolhemos vir para cá experienciar a matéria. Nossa real natureza é luz e amor. Em algum momento, nós escolhemos conhecer a matéria e viver essa aventura, mas o preço a ser pago por isso é submeter-se à dualidade; usar o véu da ilusão, o qual nos faz esquecer da nossa real natureza, que é luz e amor. Aí o jogo começa. 

A vida é um jogo, no qual você é vitorioso somente quando lembra quem é e o que veio fazer aqui. E você só tem essa lembrança quando pode perceber que não tem inimigos. Estando preso a essa ideia de que tem inimigos, você está longe de ganhar esse jogo. Quanto maior é essa crença, mais rebaixada está a sua consciência, mais identificado você está com aquela criança que não recebeu amor exclusivo e está tendo de se vingar, fazer justiça com suas próprias mãos. E, com isso, você permanece atado ao círculo vicioso do sadomasoquismo. Isso é o que eu chamo de adormecimento. 

Despertar significa lembrar-se de quem é você. E você é uma manifestação do amor divino. Você não tem inimigos. Às vezes, o outro quer te matar, mas isso é um problema dele, não seu. isso não é motivo para fechar o seu coração. Você não deixa de ser quem é porque o outro está encantado com a história dele. O céu não deixa de ser céu porque as nuvens estão escuras. As nuvens sempre passam e o céu permanece o mesmo. O Ser tem a natureza do céu, a qualidade do céu – ele é permanente, é sempre o mesmo. 

Em algum momento, você se torna o amor e esse amor não muda nem se altera com a reação do outro, porque você percebe que a reação do outro é também uma ilusão. Ele está encantado com os próprios pensamentos. E, aí, você começa a se sentir amigo do outro e começa a sentir compaixão. Sente compaixão ao ver o outro ali atormentado com a própria história; sente compaixão pelo outro que está tendo um sonho ruim, às vezes, um pesadelo. 

À medida em que acorda, você quer ver o outro acordar também. E, aí, você canta para ele: 

PRABHU AAP JAGO. PARMATMA JAGO. MERE SARVE JAGO. SARVATRA JAGO – Acorde! Desperte desse encantamento!

Se a criança chega a este mundo com necessidade de amor exclusivo e isso é impossível, eu concluo que o núcleo desse encantamento, o principal elemento que nasce da dualidade, é a carência afetiva. Este é o grande desafio do ser humano – superar a carência, acordando desse sonho, em que ele é um eu separado e onde ele se vê constantemente ameaçado por inimigos. 

Eu tenho proposto uma espiritualidade prática e cirúrgica, porque é preciso ir direto ao ponto. E o ponto é reparar as relações. 

Você precisa se livrar dessa ideia de que tem inimigos, através da autorresponsabilidade. Você precisa se responsabilizar por suas dificuldades e por sua incapacidade de amar e perdoar. Por mais identificado que você esteja com as mazelas e, por mais que tenha encontrado pessoas realmente maldosas no seu caminho, eu afirmo: você está onde se coloca! Você não é uma vítima indefesa! Isso é apenas um jogo da sua natureza ilusória. Pode ser difícil de entender isso, mas eu posso lhe provar. Em algum momento você estará pronto para isso. Em algum momento você acordará desse sonho. 

Você está dando o seu melhor para essa aventura de acordar, eu sei. Você está corajosamente batendo na porta. Mas eu lhe afirmo que vai chegar o momento no qual perceberá que não existe porta, não existem nem paredes. Tudo é fruto da imaginação. Tudo isso é Maya. Tudo isso é ilusão. Você criou uma barreira porque acredita ser um eu separado. Maya é muito poderosa! Mas, de vez em quando, acontece de alguém colocar a cabecinha para fora. 

Pergunta: Querido Prem Baba, eu testemunho que no satsang de ontem, um onde o perdão me pegou, passou por mim de alguma forma. Eu pude perdoar os meus pais e de novo senti grande respeito por eles. Pude perdoar outra pessoa que me machucou na infância e eu me perdoei também por deixar os outros me machucarem. Senti uma oração pela minha família e nos vejo felizes, sorridentes e dançando daqui em diante. A cada respiração, meu eu interior se torna mais iluminado, como um céu limpo. 

Sri Prem Baba: Jay ho! É isso. Costumo dizer que você planta sementes, mesmo sem saber quando elas florescerão. Em algum momento, o véu da ilusão é rasgado e você é pego. O perdão é a dimensão do amor que te liberta da ideia de que você tem inimigos. Mas o perdão não pode ser fabricado, ele é um florescimento que acontece quando você estiver suficientemente maduro. O que você pode fazer é estimular esse florescimento através do conhecimento. O conhecimento provoca a compreensão e a compreensão dá lugar ao perdão. 

O perdão te liberta do passado, te liberta da ideia de que tem inimigos. Você é tomado pelo amor e pela luz. A luz do amor ilumina aquele que dá e aquele que recebe. Amor é luz. Por isso eu digo que é Deus e Deus é amor. O amor te liberta dessa teia ilusória; te liberta desse encantamento com a sua história, na qual você acredita ser apenas um filho, um pai, uma mãe, um irmão... você se liberta do nó do apego ao drama. 

Pergunta: Amado Guruji! Pela primeira vez, pude me ver separada da minha história e compreender com clareza que ainda uso essa história para não ter de assumir a responsabilidade em crescer e deixar de ser uma criancinha abandonada. Nossa! Estou sentindo uma alegria muito honesta no meu coração; uma leveza que nem mil palavras podem expressar. Que maravilha é amadurecer. Estou tão feliz em poder me responsabilizar por minha vida e esse lindo processo de florescer. Gratidão pelo lindo trabalho, meu Mestre, que me guia com tanto amor e sabedoria. Eu te amo e esse amor despertou em mim a alegria verdadeira em me amar. 

Sri Prem Baba: Que bonito! Muito bonito! Eu considero essa libertação do encantamento com a sua história aquilo de mais bonito que pode acontecer. Você assumir a própria responsabilidade, se libertar dessa trama gerada pelo jogo de acusações é, sem dúvida, o início de uma ascensão espiritual. Aí você começou a acordar. É isso. 

Eu trabalho para ressignificar o conceito de iluminação espiritual. Faço isso porque muitas pessoas se tornam egoístas querendo se iluminar espiritualmente. O que eu proponho é você se tornar amigo do seu irmão. Essa é a meta! Porque, quando se torna verdadeiro amigo do outro, você se ilumina – é uma consequência. E, nesse momento, as portas do céu se abrem, ou melhor, você percebe que o céu não tem portas. Fico realmente feliz de ver você abrir os olhos. 

Mas, tudo bem se esse não é o seu caso. Se você está ainda ardendo no fogo da ira, da vingança, o que fazer? Vamos indo, quem sabe daqui a pouco Deus te pega? Daqui a pouco, o ego cochila e o amor te pega, igual ao perdão, que pegou essa outra pessoa. Ela estava ali, identificada com sua história, até que, de repente, cadê? Cadê o inimigo para brigar? Acabou. 

O nosso trabalho pode ser compreendido como um experimento em direção à amizade. E, amizade de verdade implica em querer ver o outro brilhar, sem querer nada em troca. Isso liberta. E quando estiver querendo esse bem para aquele que você uma vez considerou ser seu inimigo, você estará tirando nota dez na prova. Quando estiver querendo ver o outro – especialmente sua mãe, seu pai, ex-marido, ex-mulher, ex-namorado – brilhar e ser feliz sem querer nada em troca; quando puder dizer, de verdade: “Vai meu amor! Vai e seja feliz! Livre para brilhar”, você estará passando na prova final da universidade da vida. 

Abençoado seja cada um de vocês. Que o amor acorde. Até um próximo encontro

NAMASTE