Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.
Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.
Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.
Estamos em busca da verdade. Quem somos por trás das nossas histórias. A verdade é eterna. A personalidade é um produto do tempo. A fuga de si mesmo é causa do sofrimento e da violência contra nós mesmos e contra o outro. A consciência da nossa violência é um encontro com a graça divina. A graça proporciona a libertação dos pactos de vingança que nos mantém identificados com a personalidade fragmentada. Esse é um lugar de purificação, em que trabalhamos para quebrar apegos. Quando brigamos com o outro, estamos brigando com partes fragmentadas de nós mesmos com as quais não chegamos a um acordo. A importância da auto-observação para compreender a mecânica do ego e abrir mão dos pactos de vingança.
Sri Prem Baba: É isso. Entre silêncio e canções, vamos abrindo caminhos para a morada sagrada que nos habita, para esse lugar dentro de nós que não se divide, que não se corrompe, que não morre.
Existe esse lugar dentro de nós. Alguns já tiveram vislumbres disso, outros se movem nessa direção porque intuem que existe um lugar assim, outros porque ouviram falar.
Essa é a razão da busca. Também chamamos esse lugar dentro de nós, de verdade. Estamos em busca da verdade, a verdade de quem somos, a verdade por trás de todos os conceitos, de todas as ideias, de todos os pensamentos.
Quem sou eu, por trás do nome, por trás da forma? O nome, a forma, pertencem ao tempo, tem uma história. Uma história marcada por encontros e desencontros, choques de alegria e de tristeza, que foram moldando o caráter. O caráter, que diz respeito a esse nome, a essa forma e a essa história.
Mas, quem é você, por trás dessa história? Quem é você, antes desse nome, antes dessa história que você conhece ter começado? Quem é você antes de tomar essa forma? É isso que chamamos de verdade.
Essa verdade é eterna, sempre foi e sempre será. Está além do bem e do mal, além do certo e do errado, além daquilo que conhecemos como pecado.
A verdade é o fogo que destrói os pecados. Eu sou o fogo que destrói os pecados. Pecado significa desviar-se do alvo, são os equívocos cometidos pela personalidade. Personalidade é um produto do tempo, nasce com o tempo, morre com o tempo, mas você é eterno. E você - personalidade - está em busca desse eterno.
Fico muito feliz de ver cada vez mais pessoas comprometidas com essa busca, cada vez mais pessoas comprometidas com essa exploração da consciência, comprometidas em despertar o amor, que é uma consequência desse encontro com a verdade.
A verdade que é você esparge o perfume do amor. Por isso eu digo que nós estamos nos movendo em direção ao amor. Nós, enquanto sociedade humana, nos movemos em direção ao amor. Porque esse encontro com a verdade é inevitável. Em algum momento, realizaremos essa verdade.
Você não pode fugir eternamente da sua verdadeira identidade. Você não pode fugir de si mesmo eternamente, até porque, essa fuga de si mesmo tem consequências, e a principal consequência é o sofrimento e um aspecto cruel do sofrimento que é a violência - a violência que cometemos contra nós mesmos e contra os demais, que se encontram ao nosso redor.
Em algum momento, despertamos para a consciência do sofrimento. Em algum momento, acordamos para sentir o sofrimento e para perceber que estamos sendo canais de violência, que estamos usando o poder que nos foi dado – através dos pensamentos, palavras, sentimentos e ações – para destruir. E aí, nesse momento, muitas vezes entramos em choque: “O que eu estou fazendo da minha vida?”.
Esse é o início desse movimento consciente em direção à verdade. Você só pode se encontrar, quando tem consciência de que está perdido. Você só pode se mover em direção àquilo que não se divide dentro de você, quando você está consciente das suas divisões.
Essa jornada é desafiadora: você encontra, você perde; você abre, você fecha; você sobe, você desce. É assim, como uma criança que está aprendendo a andar - às vezes ela cai e se levanta de novo – até que em algum momento ela tem condições de se sustentar em suas pernas, até a hora em que ela se equilibra, o que significa não aceitar os convites para o sofrimento, não aceitar os convites da personalidade ferida, machucada para seguir se vingando daquilo ou daqueles que ela acredita que a machucaram.
Renunciar à vingança é um ato de nobreza. É uma fase muito importante da jornada. A graça divina proporciona essa libertação - a libertação dos pactos de vingança - que é o que te mantém identificado com sua personalidade fragmentada.
Se você se aprofundar na auto-investigação, verá que por trás desse apego na personalidade fragmentada, apego nas repetições destrutivas que acontecem na sua vida, existe um pacto de vingança.
Muitas vezes, você está inconsciente a respeito dessa vingança. Mas, se você se aprofundar no estudo de si mesmo, vai perceber que se autodestrói e destrói o outro por vingança. Você vai descobrir que está se machucando e machucando o outro por vingança, porque você, enquanto personalidade, foi machucado e ainda não chegou a um acordo com isso. Você carrega ressentimentos no seu sistema, tem dores que você ainda não pode chegar a um acordo. É isso que te mantém preso ao pequeno eu, à ideia de que você é uma criança ferida, que precisa se vingar.
À medida que você se move em direção à verdade, querendo saber, de fato, quem é você antes desse nome, antes desse nascimento, inevitavelmente você entrará em contato com essas dores. E, quando você se dispõe a ir além dessas vinganças, você começa a estar pronto para descobrir a verdade de quem é você.
Quando você deseja se mover em direção à verdade, significa que a graça divina te tocou. Quando você toma consciência do seu sofrimento, isso também é uma bênção divina. Quando toma consciência dos seus pactos de vingança, das contas abertas com o passado, das marcas dessa personalidade, isso também é uma bênção porque, eu repito, você só pode se encontrar quando tem consciência de que está perdido. Você só vai atrás de uma cura quando está consciente de que está doente, porque quando está amortecido, você não se move, você anda em círculos.
Quando você está completamente adormecido, você só anda em círculos. Às vezes você tem a impressão de que está progredindo, porque às vezes você demora a voltar para o mesmo lugar, aí você tem a impressão de que está vendo coisas diferentes. Até que, de repente, você começa a ter uns déjà vu: “Eu já vi isso, eu conheço esse buraco, eu estou nele de novo! Eu conheço essa pedra, tropecei nela de novo!”.
Renunciar aos pactos de vingança é como entregar as armas, significa renunciar à violência, renunciar ao vício de tratar o mal com o mal. Eu considero que esse seja, talvez, um dos maiores vícios da entidade humana em evolução no planeta nesse momento: o vício no sofrimento, que faz com que tratemos o mal com o mal para gerar sofrimento. O sofrimento se alimenta de sofrimento, isso é um círculo vicioso, e é a graça divina que te permite tomar consciência disso.
Eu estou falando isso porque eu sei que às vezes é desesperador tomar consciência de que você está em determinado lugar. Às vezes, você se vê num lugar tão escuro, que se sente sozinho. Até porque, às vezes, a marca que você está lidando é uma marca de abandono e você vibra naquele abandono, vibra naquele desamparo, naquela solidão e você então acredita que não existe Deus, e se existe, ele está de férias: “Se ele existe, como ele me largou aqui nesse lugar tão ruim?”.
Mas, às vezes a criança não tem que cair, para depois andar? Para renunciar a esses pactos de vingança, você não precisa tomar consciência deles? Para se desidentificar desse aspecto machucado da sua personalidade, você não tem que tomar consciência dele?
Então é uma bênção você tomar consciência. Mas é uma passagem, um lugar de purificação, um lugar em que você está sendo trabalhado para quebrar os apegos.
Você está aprendendo a integrar essas dores existenciais que te habitam, aprendendo a acordar algumas dimensões do amor. Ou, como eu prefiro dizer, você está desaprendendo a odiar, está acordando o perdão, aprendendo a olhar o meio copo cheio, aprendendo a agradecer, aprendendo a desfocar a visão para enxergar além do ego.
Porque o ego é como aquele anel do filme ‘O Senhor dos Anéis’. Quando você está usando o anel, você só vê o mal, só vê sombra. Quando você está identificado com o ego, você só vê ego. Quando você está identificado com a sombra, você só vê sombra. Quando você está identificado com a maldade, você só vê maldade.
Quando você amadurece o suficiente para receber a graça que te liberta dos pactos de vingança, aí você olha além do ego e quebra esse círculo vicioso de tratar o mal com o mal; aí a porta do salão da verdade começa a se abrir e você começa a ter vislumbres de quem é você, começa a sentir o cheiro desse amor incondicional e começa a ter amor até por aquela criatura que estava ali te machucando. Começa a acessar esse lugar – que alguns podem chamar de loucura, a loucura divina – que possibilita que você ame até aquele que quer te matar. Você para de brigar.
Então, durante um tempo, você briga muito com essas partes de você mesmo e consequentemente com os outros em quem você projeta essas partes de você. Entenda isso: quando você está brigando com o outro, você está brigando consigo mesmo, está brigando com uma parte sua que está projetando sobre o outro.
Então, durante algum tempo, você briga muito consigo mesmo, até que amadurece e deixa de se incomodar e chama essa parte para tomar um chá. Mas, para isso, você precisa identificar essas partes.
Por isso eu digo que, nesse processo de despertar ou nesse processo de encontro com a verdade, a auto-observação é fundamental. Por isso eu tenho insistido tanto na importância de desenvolver a sua capacidade de se auto-observar.
Existem algumas tradições hinduístas, budistas, cristãs, onde o buscador fica fechado num canto por um longo tempo se auto-observando, para desenvolver essa capacidade de identificar aquilo que o está desviando do alvo. Compreender a mecânica da mente - a mecânica do ego - é crucial. Então, quando você começa a identificar aquilo que não é você e pode se desidentificar, aquilo que é você, começa a surgir.
É por isso que é natural, para aqueles que iniciaram essa caminhada, verem-se em algum momento, num lugar de purificação. E aí, a minha sugestão é: em vez de você brigar com isso, procure compreender o que é que você precisa aprender nesse lugar. Se você se vê sofrendo, procure identificar o que precisa ir embora; o que você tem que abrir mão. Às vezes é algo que você não quer abrir mão. Porque, muitas vezes, você aprende a ter prazer na vingança, aprende a ter prazer em tratar o mal com o mal, ter prazer em rejeitar e ser rejeitado. Eu chamo de prazer negativamente orientado, mas muita gente só consegue sentir prazer em situações negativas. Tem gente que só consegue sentir atração por uma pessoa, quando ela a está rejeitando. Se chega alguém tratando bem, ela se desinteressa.
Com isso, a gente percebe a dimensão do apego ao sofrimento. Com isso, estou sugerindo que, ao invés de cair na armadilha do desespero, do medo, da raiva quando você se vir numa situação difícil, compreenda que é apenas uma casa do jogo da vida que você entrou, que é um lugar de purificação e a graça divina está atuando para te ajudar a desapegar de alguma coisa. Tem algo aí que você precisa deixar ir e vai ajudar muito se você tiver consciência do que é que precisa deixar ir, para que você possa intencionalmente colaborar com esse despertar, estar consciente na caminhada.
Por isso é que ontem eu lhe perguntei: “o que te trouxe até aqui? O que te fez iniciar uma peregrinação espiritual? O que você está buscando?” Porque eu estou aqui hoje falando de aspectos gerais da busca. Mas, e você, em seu caso particular, você está consciente do que está buscando?
Se tornar consciente do que você está buscando é como uma batida na porta do salão da verdade. Esse trabalho acontece dentro. Estou usando as palavras porque eu sei que nem todos podem, nesse momento, compreender o silêncio. Mas, a essência desse processo se dá quando você conecta o seu coração com o meu coração, aí você vai ver esse processo acontecer dentro de você.
Pouco a pouco as capas que encobrem a verdade vão caindo e a verdade vai se revelando.
Ótimo, vamos seguir trabalhando, o trabalho que significa, prioritariamente, auto-observação, autoinvestigação.
Abençoado seja cada um de vocês. Que o amor e a sabedoria iluminem os passos da sua jornada. Até um próximo encontro.
NAMASTE