Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

Relação com a Vida – Escolhas e Decisões vindas do Coração
Tomada de consciência do jogo de acusações. O porquê de estar onde se está. Autorresponsabilidade sobre os conflitos. Humildade, paciência e compaixão com a própria sombra. Na relação com a vida, as escolhas devem seguir os comandos do coração, levando à consciência de se estar no mundo a serviço. Rumo ao Cristo interno para transformar-se em amor, perdão e compaixão. A importância da empatia.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
9/3/2017

Sri Prem Baba: Eu lhe convido a fechar os olhos e a se recolher no silêncio por alguns instantes. Quando sentir vontade, lentamente abra os olhos para que possamos prosseguir com os nossos estudos. 

Durante esta semana percebo que o GPS cósmico está nos conduzindo a trilhar caminhos na esfera das relações humanas, que têm provocado muitos confrontos interiores. Percebo pelas perguntas, pelos depoimentos, que um profundo trabalho de transformação está acontecendo. 

Fico feliz que você esteja tendo essa oportunidade de passar sua vida a limpo através da reparação das relações e da conscientização da sua responsabilidade nos conflitos. Fico feliz por você estar percebendo que por mais que o outro esteja errado, quando você se sente perturbado há algo em você provocando essa perturbação. Existe alguém em você que, por alguma razão, atrai a rejeição, o desrespeito e a desconsideração. Por mais desejoso de ser reconhecido e ser amado que você esteja, existe uma parte de você que não ama, não considera e não respeita, por mais que aparentemente você seja a pessoa mais amorosa do mundo. Fico feliz por você estar se dando conta de que existem pontos cegos dentro de você e que, por mais distante que esteja da cura, só o fato de tomar consciência de que parte de você está atraindo essas dificuldades já interrompe alguns aspectos do jogo de acusações. O planeta já respira um pouco mais aliviado. 

Essa tomada de consciência gera fricções, porque enquanto você estiver amortecido e adormecido, acreditando que o outro é o culpado por sua infelicidade, você tem certa qualidade de desafios. Mas, quando você começa a se autorresponsabilizar, aí você lida com outra qualidade de desafios, porque você se dá conta de como está quebrado por dento. E, às vezes, você se dá conta de que não é tão fácil concertar isso e tem um choque de realidade. Isso é o quão distante você está da paz, de construir relações verdadeiramente amorosas e fraternais. Às vezes, você se choca com o tanto de autoengano e precisa ter um pouco de paciência. 

Com calma e tranquilidade os caminhos vão se iluminando. A vida tem me mostrado que tudo se cura, embora algumas curas precisem de tempo, de muita humildade, muita paciência e compaixão com a própria sombra.  Você precisa de muita firmeza e dedicação para lidar com a própria sombra, mas de compaixão também porque, às vezes, você fica muito exigente consigo mesmo, muito duro. E essa transformação leva tempo. 

Você descobre que está atolado num vício de se machucar e machucar o outro. Você toma consciência disso e quer logo sair desse lugar. Óbvio. Mas é preciso tempo para você descondicionar a própria mente; é aos poucos. Cada mergulho que você dá no lago do amor, cada vislumbre de presença, cada momento de comunhão com o Santo Espírito, lavam aos poucos o seu coração; iluminam a escuridão interior e você compreende melhor o porquê de estar fazendo do jeito que está fazendo e começa a escolher fazer diferente. Pouco a pouco. E, às vezes, essa tomada de consciência se manifesta de forma muito abrupta e você também precisa lidar com isso. Por exemplo:

Pergunta: Amado Guruji, depois de 16 dias contigo em minha primeira vez na Índia, voltei para casa. Estou no Brasil. Essa pergunta chegou aí por meio de uma amiga que continua com vocês. Meu coração está despedaçado. Tenho lutado contra essa sensação fingindo que está tudo bem. Mas não é verdade. Tudo está me fazendo muita falta. Estar fisicamente longe de você, de toda energia do ashram, da Índia, da temporada. Enfim, isso está me deixando sem chão. Sinto que meu coração ficou aí contigo. Esqueceu de voltar. Como faço agora? Tenho me segurado com firmeza no meu sadhana, o que me traz um pouco de calma e entusiasmo, mas está difícil seguir com constância no coração aberto, na presença, na aceitação e na confiança em meu propósito externo. Só quero estar de volta na tua presença e na tua graça. Quando consigo sintonizar contigo através das músicas e mantras da Awaken Love Band, dos satsangs ou das minhas práticas tudo passa a fazer sentido e me sinto completa, como se estivesse aí com vocês de novo. Me diga, Mestre, isso é assim mesmo ou estou fazendo drama?

Sri Prem Baba: Eu sinto que você não está fazendo drama, mas isso pode se tornar um drama. Eu sinto que você está tendo um choque de realidade. Você está tomando consciência de que a situação da sua vida - que se definiu através das suas escolhas e decisões - está longe do seu coração. Você está tomando consciência de que talvez não esteja no lugar onde o seu coração deseja estar. Não é diferente da tomada de consciência da sua autorresponsabilidade no conflito. Nós estamos falando a mesma coisa. Não importa se a relação é com um namorado, sua filha, chefe, empregado, com seu vizinho ou com seu mestre espiritual. O fato é que no momento em que você se dá conta de haver um desencaixe, você precisa rever as suas escolhas e decisões. 

Aqui, mais especificamente, estamos falando de uma outra qualidade de relação, que tem a ver com a própria vida. Uma relação com a vida. Você está tomando consciência de que a vida que está vivendo não está em sintonia com o seu coração. Uma coisa é sentir falta da atmosfera espiritual do ashram, sentir falta da presença física do mestre; isso é algo natural na vida de todo buscador e você precisará aprender a lidar com isso. Especialmente quando o karma não permite estar próxima ou quando o karma exige que você vá para o mundo, pois tem algo a ser feito lá. Mas essa saudade vai se minimizando, se você tiver consciência de que está onde está, porque é assim que o seu coração deseja. Você está seguindo os comandos do coração. Se estiver seguindo os comandos do coração, você está no mundo a serviço. E se estiver consciente do serviço, você se sente guiado. Isso minimiza a saudade. Você foi levado a realizar um serviço no mundo, mas quando não tem consciência desse propósito e está num lugar onde você não vê sentido estar, então essa saudade pode realmente te esmagar. 

Isso significa que a sua vida está precisando de um ajuste, de um redirecionamento; significa que existe um autoengano em relação às suas escolhas e decisões. Talvez tenham sido as decisões e escolhas corretas até aqui, mas daqui em diante se faz necessário alguma mudança de modo que você se sinta conectada com o Mistério. De forma que mesmo estando distante fisicamente, você possa me sentir no seu coração, possa sentir a atmosfera espiritual na sua vida. A única maneira de você sentir essa conexão é quando você se sente a serviço. É quando você vai para o mundo, porque você foi guiada pelo Grande Mistério para estar no mundo. 

Quando você é guiada para construir uma família, trabalhar dentro de uma empresa ou estar no olho do furacão, você estará nesses lugares com amor; porque estará consciente de que foi guiado para estar naquele lugar e a sua passagem por tal lugar é fundamental para o desenvolvimento da sua alma. Tem algo ali para você aprender. Tem algo ali para você integrar. Existem aspectos interiores para reparar estando em determinados lugares, porque você encontrará pessoas que ativarão certos núcleos interiores. Só em determinados lugares se torna possível esse encontro e, consequentemente, essa cura. 

No entanto, quando você realmente não se sente guiado, é muito difícil. Depois de ter tido um gostinho do Céu, ter de ir para o inferno sem saber por que está indo para o inferno, é desesperador. Se você estiver indo para o inferno porque recebeu um comando superior para ir para o inferno - porque tem algo ali para você -, você irá e se sentirá protegido e guiado. Nem sempre é gostoso - tem ali um sacrifício a ser experienciado - mas você vai, porque você sabe que realmente é ali que tem de estar. 

Eu sinto que quando a gente entra no núcleo da esfera das relações - que é esse núcleo da relação sutil com a vida - você precisa fazer a pergunta: “onde é que eu realmente devo estar? Onde é que Deus quer que eu esteja”? 

É possível que você esteja começando a tomar consciência de que o que você quer mesmo é viver no ashram ou, no mínimo, viver por mais tempo no ashram. Para isso acontecer se faz necessário chegar num ponto de equilíbrio na balança Kármica. Para poder chegar ao ponto de ter liberdade para estar onde desejar estar, você precisará, no mínimo, ter dinheiro suficiente para pagar suas contas; você precisará estar num ponto de emancipação em relação à família, porque aí você estará livre para estar onde realmente deseja estar. Por isso você não pode fugir desse trabalho que te leva a esse ponto de equilíbrio, que te dá liberdade de ir aonde você quiser. 

Enquanto não chega a esse ponto de equilíbrio você precisará se contentar com uma visita esporádica. Você precisará aprender a se conectar com essa atmosfera espiritual onde quer que você esteja. Esse ponto de equilíbrio é fruto da maturidade. Você se move em direção a ele até que em algum momento ele chega a você; às vezes é difícil. Estou vendo aqui que muitos estão passando por esse desafio. 

Certa vez eu ouvi uma história que Swami Chandra Mukta me contou. Não sei se vou conseguir reproduzir a história, mas eu vou tentar: Um rapaz estava namorando uma menina e ele queria se casar com a menina. Aí marcou um jantar com a família da moça para pedi-la em casamento. Ele ainda não conhecia os pais da moça, mas estava decidido a noivá-la e posteriormente casar-se com ela. Chegou o dia do jantar. Ele teve um momento a sós com o pai da noiva. Eles se sentaram para uma conversa e o pai da noiva obviamente queria conhecer o rapaz para saber para quem estava entregando a filha. Então, perguntou: Você está trabalhando? O que você faz? E o rapaz respondeu: Não. No momento não estou trabalhando. O pai falou: Mas você está pensando em casar. Como é isso? Você não está trabalhando... E o rapaz disse: Deus proverá. O pai perguntou: Você está procurando emprego? E o rapaz respondeu: Não. Ainda não. E o pai disse: Mas como você vai conseguir esse emprego? Como você vai conseguir o sustento para a minha filha? E o rapaz disse: Deus proverá. O pai perguntou: Mas você está estudando? E o rapaz respondeu: Não. Não estou estudando. E o pai perguntou: Mas como você vai conseguir uma profissão? Chegar a algum lugar? O rapaz respondeu: Ah, mas Deus proverá! O pai achou muito estranho tudo aquilo. Depois que passou o jantar, a mãe da noiva veio para o pai, o marido dela, querendo saber como tinha sido a conversa. Ele falou: O rapaz não trabalha, não estuda, não está nem procurando emprego, mas ele tem uma coisa boa. Ele acha que eu sou Deus! 

Alguém tem de pagar a sua conta. 

Me lembro do caso de um discípulo meu que estava também sentindo de ficar aqui no ashram por mais tempo, mas tinha o compromisso de voltar para o mundo e trabalhar - ele estava de férias. Ele foi falar com o Maharaji; Maharaji ainda estava no corpo. E disse: Maharaji, eu estou com vontade de ficar aqui mais tempo, mas tenho de voltar para trabalhar. O que eu faço? O Maharaji respondeu: Você tem devotos que o sustente? Ele disse: Não. E o Maharaji disse: Então, você tem de trabalhar! 

Nós estamos brincando um pouco, chamando o bom humor, mas às vezes é muito dolorido esse choque de realidade. A realidade é que você não estava presente quando fez algumas escolhas e tomou decisões para sua vida; e agora que está se tornando mais presente, você se vê preso em uma situação e não sabe como sair dela. Você tem de ter calma e paciência para desatar os nós kármicos - que é a mesma paciência necessária para tomar consciência dos seus vícios, apegos. 

Outra questão: 

Pergunta: Baba, o relato do lama, dias atrás, me tocou profundamente. No entanto, me pergunto como é possível receber esse tipo de impacto no corpo físico e emocional e não ser levado à loucura, à morte ou reagir com um mal ainda maior. Pergunto isso porque, neste mundo, qualquer um de nós pode receber esse desafio e pode ser um bálsamo saber como lidar com isso da melhor maneira.

Sri Prem Baba: Para quem não estava aqui, eu contei uma história que foi trazida pelo Dalai Lama a respeito de um lama que havia sido preso por 18 anos e foi severamente torturado. Quando Dalai Lama encontrou com ele perguntou: Qual foi o maior medo que enfrentou nesses 18 anos? E ele respondeu que o maior medo era o de perder a compaixão pelos torturadores dele. 

É um fato que qualquer um pode ser levado a um desafio desses e tudo aquilo que eu disser servirá apenas como conhecimento. Mas para um conhecimento ser transformado em sabedoria, é preciso ter a vivência. Eu sinto que você cresce em compaixão, quando pode verdadeiramente fazer empatia; quando pode se colocar no lugar do outro. E quando de fato fizer isso, você descobrirá que a vítima está sempre dos dois lados. 

Nesse mesmo encontro em que estava o Dalai Lama, havia um outro homem que contou uma história também muito tocante: ele era um banqueiro no Paquistão e tinha um filho único, com 14 anos de idade. Ele amava profundamente esse menino e estava preparando o filho para ser seu sucessor, para herdar todo o império dele. Aconteceu que numa manhã o menino saiu de casa para ir à padaria comprar pão, ou algo assim, e estava acontecendo uma guerra de gangs, de jovens delinquentes, e uma bala perdida atingiu o filho dele. O menino morreu na hora. O pai do menino recebeu a notícia por telefone; ele estava no trabalho, no banco, no escritório e recebeu a notícia de que o filho havia morrido. Nessa hora, o impacto foi tão grande que ele teve uma parada cardíaca e caiu. Morreu também; ele saiu do corpo! Enquanto estava fora do corpo teve uma experiência mística. Ele viu que a vítima estava dos dois lados da arma e que ele estava tendo ali, naquele momento, a chance de fazer uma escolha: ou ele seguia a jornada fora do corpo ou perdoava o jovem delinquente que havia matado o filho dele e voltava para o corpo para ajudar a cuidar desses jovens. E foi essa a escolha que ele fez; voltou para o corpo, perdoou o jovem, criou uma ONG para cuidar de jovens delinquentes. Ele procurou a família desse jovem e descobriu que o jovem não tinha pai e nem mãe, que era criado por um avô. O homem convidou o avô para trabalhar com ele na ONG. O sonho dele era ter esse menino, esse jovem delinquente, trabalhando com ele na ONG, mas o jovem foi preso; ele continuou trabalhando com esse jovem mesmo na prisão. E quando o jovem foi solto, foi trabalhar com ele na organização também, para tratar de jovens delinquentes. 

Nós estamos falando aqui de exemplos de compaixão que talvez sejam um pouco distantes. Exemplos de perdão que talvez sejam um pouco distantes. Mas você se move em direção a esse perdão e a essa compaixão através de coisas pequenas; quando se coloca no lugar do seu namorado, do seu filho, da sua mãe, do seu vizinho e procura sentir por que é que ele está agindo daquele jeito. Assim como você está meio quebrado por dentro, o outro também está e quanto maior for a estupidez e a ignorância, maior será a dor que a pessoa carrega. 

Você se move em direção à compaixão quando pode desamortecer a ponto de sentir a dor. A dor que você carrega e a dor que o outro carrega; e aí, você deixa de criticar, de acusar e entende que, às vezes, o outro está dando o melhor dele na aventura de viver. E, às vezes, o jeito que ele encontra é sendo estúpido, é sendo um grande imbecil. 

“Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. 

É muito bonito ouvir isso! É muito bonito você assistir o filme A Paixão de Cristo e ver Jesus dizer: Pai, perdoai, porque eles não sabem o que fazem. E aí você chora e diz: Oh! Quanto amor, quanto perdão, quanta compaixão. Mas, se você ainda não sabe, eu vou lhe dizer: você não tem como fugir da experiência de se tornar o Cristo! Não é o Cristo lá fora. É o Cristo aqui dentro. Em algum momento você vai precisar perdoar aqueles que te ofendem. Você vai precisar perdoar aqueles que te machucam. Você não tem escapatória dessa passagem. Não tem jeito! Você pode fugir o quanto você quiser, mas em algum momento você vai ter de se tornar o amor, se tornar o perdão. E é por isso que aqui, às vezes, o trabalho se torna tão desafiador; porque você quer continuar na fantasia a respeito da compaixão e do perdão, mas você está sendo levado a se transformar no perdão, a se transformar na compaixão. 

E aqui você diz assim: 

Pergunta: Querido Prem Baba, eu sou Deus. Divino e eterno. Com essa conclusão o ego não existe. Todo sofrimento é produto da mente. Então concluo que não existe eu inferior. Poderia explicar melhor? 

Sri Prem Baba: Estava indo bem! Até que você diz para explicar melhor aí, já começa a perder altitude!

Essa é uma questão: a escuridão existe? A ciência diz que a escuridão não existe, diz que a escuridão é a ausência da luz. Não importa se é uma escuridão milenar de uma caverna, se uma frestinha se abre a luz entra, a escuridão se dissipa. O mesmo em relação ao eu inferior. O eu inferior tem a natureza, a qualidade da escuridão. Quando o coração abre, cadê o eu inferior? Cadê o ciúme? Cadê a raiva? Cadê o medo? Cadê? Se existe amor, não existe medo, raiva, inveja, não existe nada. Se há luz, não há escuridão.

E aí, alguns podem pensar assim: “mas então onde está essa luz? Eu estou aqui ardendo no fogo da avareza, da raiva, do medo”. Boa pergunta. Nessas horas, realmente acho que essa se torna uma pergunta muito inteligente. Cadê eu?  

Cadê eu, cadê eu?

Cadê eu, onde está?

Cadê eu, cadê eu? 

Cadê eu, onde está?

Harmonizado, eu estou em tudo.

Sigo firme, vamos caminhar. 

Harmonizado, eu estou em tudo.

Sigo firme, vamos caminhar. 

Estou dando esses exemplos de perdão e de compaixão apenas para apontar uma direção. Fique atento para não ficar exigindo de si mesmo o que não tem para dar. Vamos aos poucos. Lembre-se de que mais vale uma raiva verdadeira do que um sorriso falso. 

Abençoado seja cada um de vocês. Que o amor e a sabedoria iluminem os seus passos. Até um próximo encontro.

NAMASTE.