Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

Seja Feita a Vossa Vontade Aqui na Terra, Como no Céu
Que o programa da alma se revele e se cumpra. Que cada palavra que saia da minha boca seja expressão do teu santo verbo. Que cada ato por mim praticado seja expressão da tua santa vontade. Que sejamos um. O coração é o céu. Em algum momento nos fragmentamos através dos choques de desamor. A cisão deu origem às contradições. O sofrimento é uma consequência da contradição. O ser humano passa por um processo de metamorfose, como a lagarta no casulo e a vida na semente. Transformar o veneno em néctar. É um grande progresso perceber que não é uma vítima indefesa e interromper o jogo de acusações. O processo é natural e está acontecendo. A verdadeira liberdade é um florescimento e não uma reação. Só por amor se encontra o dharma dentro do karma. Mover-se a partir da presença. Acordo com o passado.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
11/3/2017

Sri Prem Baba: Que seja feita a vossa vontade, aqui na terra como no céu. Que possamos manifestar na terra aquilo que determina o nosso coração. 

Durante uma fase da minha jornada aqui na terra, a minha oração era: “Dai-me forças para realizar aquilo que vós me determinais”. 

Viver de intuição não é tão simples, permitir-se seguir o fluxo da inspiração divina é algo a ser conquistado porque, em algum momento, perdemos essa habilidade, essa capacidade, essa confiança no coração. 

O coração é o céu. Que seja feita a vontade do Ser! Que o programa da alma se realize, se materialize no mundo. Que seja feita vossa vontade aqui na terra como é no céu. Que o programa da alma, do coração, se revele, se manifeste na matéria, que sejamos um. Que cada palavra que saia da minha boca seja a expressão do teu santo verbo, que cada ato por mim praticado seja a expressão da tua santa vontade, que não haja separação entre mim e ti. Isso é comunhão - o estado que se dá quando cai a barreira entre o eu e o tu. 

Todo o nosso trabalho aqui, todos os nossos esforços, são para experienciar essa união, para que não haja diferença entre aquilo que sentimos nas profundezas dos nossos corações e aquilo que realizamos no mundo. 

Que possamos resgatar essa espontaneidade, essa inteireza, essa verdade. Porque, em algum momento, a gente acabou se fragmentando através dos choques de desamor, que geraram dores. 

A dor criou cisões e hoje é comum que haja uma parte de nós querendo uma coisa e outra parte querendo outra coisa completamente diferente. Hoje, a contradição se tornou um fenômeno natural em nossas vidas. O sofrimento é uma consequência da contradição, o resultado de ter duas forças opostas atuando dentro de você ao mesmo tempo. 

Às vezes, seu coração te leva para a esquerda e sua mente para a direita e os nossos esforços são para realizar esse alinhamento ou essa afinação do instrumento, para que possamos dar passagem para a música da alma, que é naturalmente afinada. Essa afinação tem um preço. Você diz assim.

Pergunta: Querido Guruji, a chuva pode ser fria, intensa, deixar o céu escuro, mas a água que cai das nuvens lava as nossas almas, mata a sede, nutre o solo, propicia a germinação das sementes e o crescimento da planta, que culmina no florescimento e na frutificação. Que esses frutos venham com muita semente de amor, que cada momento de dor ou sofrimento seja uma oportunidade de renovação. Seja bem vinda a chuva!

Sri Prem Baba: Que bonito! Bonito que você esteja podendo rezar pelo seu irmão. Rezar é uma palavra; rezar pelo seu irmão é um arranjo de palavras que tenta explicar o fenômeno do amor sendo espargido. É uma dimensão específica do amor, que é a compaixão. 

Compaixão pelo sacrifício que a semente faz para poder germinar, para poder dar flores, frutos e novas sementes, e assim fazer o ciclo da vida se perpetuar. Eu também rezo para que esses momentos de dor ou sofrimento sejam uma oportunidade de renovação. Que você possa receber um bálsamo para aliviar as dores do crescimento, porque elas são inevitáveis, fazem parte do jogo nesse planeta. 

Talvez não seja possível para nós sentirmos o que a semente passa ali dentro da casca, mas é possível saber o que você sente aí dentro dessa casca que é o seu corpo em busca da comunhão, da experiência da integridade, da unidade.

Uma lagarta se transforma em borboleta através de um profundo processo, ela vai para dentro de um casulo que ela mesma cria e entra em um processo de metamorfose até que possa voar. 

O humano faz algo parecido no seu processo de se transformar em um ser divino. O casulo é um lugar de purificação, onde você precisa lidar com as dores existenciais, onde você tem que transformar o veneno em néctar, o medo em confiança. Por exemplo.

Pergunta: Querido Prem Baba, por sua causa eu descobri que algo em mim está procurando ser desrespeitado, está criando a separação e o abandono que eu tanto temo. Encontro a origem de tudo isso numa falta de autoamor e em um auto-ódio que me colocam repetidamente numa mesma situação.

Sri Prem Baba: Essa tomada de consciência dói. A verdade, num primeiro momento, pode ser bastante desagradável, até porque você, nesse primeiro momento, identifica que é você que está criando essa realidade tenebrosa, mas não sabe como mudá-la. 

Você consegue identificar que há algo em você procurando ser desrespeitado, consegue perceber que há uma voz dentro de você que diz que quer ficar separado, quer ficar isolado, criando o abandono que você tanto teme. Consegue identificar um auto-ódio, mas ainda não consegue sair disso, o que faz com que você até acredite que estava numa situação melhor antes de conhecer isso, o que faz você acreditar que talvez até fosse melhor você estar aí com sua máscara, com sua armadura, porque pelo menos você não estava sentindo esse desespero e esse ceticismo em relação à possibilidade de ser feliz. Porque ceticismo é como um deserto sem oásis, esse é o preço que eu digo que você precisa pagar. 

Quando você tira a máscara, inevitavelmente se dá conta da realidade que está construindo através das suas escolhas, das suas decisões, que estão vindo de uma parte ferida dentro de você e não do seu coração. Suas escolhas, suas decisões estão vindo da sua criança abandonada, machucada, rejeitada. A alma não está tendo espaço para se expressar. 

Remover todas essas camadas – ou curar essas feridas - para poder integrá-las, para que a alma possa se expressar, requer esse trabalho interno. Eu rezo, inclusive, para que você compreenda o processo natural de crescimento de tudo o que é vivo. 

Se você observar atentamente, verá que o caminho do coração obedece a todas as leis da natureza - é um trabalho de medicina natural. Assim como, para a cura natural do corpo físico, às vezes a doença precisa ser exposta para ser curada, o mesmo se dá com as doenças dos corpos emocional e mental, que precisam ser identificadas, tratadas, para que possam ser curadas, porque são essas doenças que impedem a manifestação do propósito da alma. 

Tudo isso é um processo natural. O que ocorre é que o ser humano se afastou tanto da natureza que ele estranha o processo e é por isso que a natureza lá fora responde tão objetivamente ao nosso trabalho aqui dentro. 

Nosso trabalho tem uma raiz xamânica, por isso que chove quando vamos fechar o trabalho, porque tudo é uma coisa só. É verdade que essa chuva vem realmente para propiciar a germinação das sementes. Eu considero que o que fizemos aqui foi um plantio de sementes. Muitos já estão vendo essa semente germinar, brotar, dar flores e frutos; outros ainda estão no processo de plantio, cuidando dos brotos, estão tendo esse desafio de aceitar todo o sacrifício do processo. 

Aí você me pergunta: “Como cultivar o autoamor? Como eliminar o auto-ódio?” Relaxa! Está tudo acontecendo. Esqueça o “como fazer”. Não precisa fazer mais nada. Você precisa relaxar um pouco para que dentro disso a naturalidade possa se expressar. 

O principal movimento você fez - identificar essa parte em você que está sabotando a felicidade. Você já conseguiu perceber que não é uma vítima indefesa das influências nefastas do espaço sideral. Com isso, você já pode interromper os jogos de acusações, já está interrompendo a guerra, isso é o suficiente. 

Pouco a pouco, você vai conseguir se distanciar desse eu. Esse eu, que estava escolhendo esse caminho de destruição, não é você, porque você pode observá-lo. Se você pode observá-lo, ele não é você. 

Talvez você não saiba quem é você, mas você é muito mais esse que está observando, do que aquele que está sendo observado. Com esse eu observador, você pode se identificar com segurança. Esse eu é uma manifestação do seu Eu real, pode não ser ele ainda em toda a sua glória, mas já é uma manifestação dele. 

Se você pode observar esse eu que está criando toda essa confusão na sua vida, você não é ele. Na medida em que você pode observá-lo, a identificação vai perdendo força. Em algum momento, você vai poder identificar esse pequeno eu e se identificar com o eu maior. 

Esse é um processo natural, está acontecendo, não apresse o rio. Às vezes é angustiante ficar nesse lugar, mas é angustiante enquanto você está identificado com esse eu destrutivo, enquanto ele ainda age à revelia da sua vontade consciente. Aqui você não soltou a amarração com esse eu destrutivo, mas já começou a se distanciar. 

É o início da libertação, mas que ainda é angustiante, pois você se vê criando o sofrimento, não consegue evitá-lo. Você se percebe criando o isolamento, criando a separação, mas você não consegue fazer diferente – escapa da sua boca - você fala coisa que não queria ter dito, se arrepende, mas já foi... 

Mas, lembre-se, pelo menos agora você está percebendo que fez o que não queria ter feito - isso é um grande progresso! Porque, antes, você não percebia e agora está tendo a chance de se arrepender, está tendo a chance de pedir desculpas, pedir perdão, falar: “Eu errei, me perdoa”. 

Às vezes, pedir o perdão não é o suficiente para reparar e você tem que conviver com o resultado das suas ações. Mas, que cada momento de dor, de sofrimento, seja uma oportunidade de renovação. 

Olha só outro exemplo interessante, aqui mostra esse desalinhamento com o coração.

Pergunta: Amado Guruji, sobre nossas escolhas na vida ou sobre onde a gente se coloca no mundo, eu sinto que estou no lugar errado, sentada na cadeira errada. Na verdade, esse sentimento de desencaixe sempre esteve presente, porque desde criança eu acho que muito desse sistema não fazia sentido para mim. Para sobreviver, eu aprendi a burlar o sistema, a enganar o sistema para sobreviver e andar pelo mundo, mas isso não me faz feliz. Parece-me que esse é um problema generalizado, porque as pessoas estão ficando doentes e eu também estou. Como realmente me encaixar na minha própria vida dentro de estruturas tão profundamente enraizadas sem me isolar no mundo?

Sri Prem Baba: Eu sinto apenas que você não deve generalizar tanto esse seu problema. Óbvio que tem pessoas que estão nesse mesmo lugar que você, mas não se perca na história do outro, continue olhando para você, para esse seu sentimento de desencaixe, para essa necessidade de se proteger. 

O que você tem feito é se proteger ao enxergar a vida como um perigo, o sistema como um perigo. Há esse barulho constante te apertando. Essa sua andança pelo mundo é como um mecanismo de sobrevivência, como se você precisasse disso para continuar vivo, porque você sente que será dizimado se entrar no sistema. Ao mesmo tempo, você está vendo que continuar fugindo também não é a resposta, porque você está adoecendo e continua se sentindo desencaixada. Parece que há algumas coisas aí que precisam ser atravessadas. 

A verdadeira liberdade é um florescimento e não uma reação; a fuga é uma reação. A liberdade é um fruto da compreensão, mas só por amor você consegue atravessar o que tem que atravessar. 

É só por amor que você consegue encontrar o dharma dentro do seu karma. É só por amor que você vai conseguir entrar no jogo sem se perder nele, jogar a parte que lhe cabe até que você esteja realmente pronto para sair conscientemente, sair como o fruto do amadurecimento, como uma transcendência e não como uma fuga. 

Se você está fugindo, você está deixando rastros, está deixando contas abertas, que funcionam como âncoras te prendendo. Uma pessoa verdadeiramente livre não deixa rastros, não tem contas abertas, porque ela se move a partir da presença e não a partir do passado. 

Fugir do passado não elimina o passado, o que o elimina é você chegar a um acordo com ele, é você poder olhar para trás e dizer, de verdade: “Muito obrigada!”. E com isso deixar de se opor, inclusive a um sistema completamente degenerado, pois enquanto você estiver se opondo você não pode colaborar para ressignificá-lo. 

Enquanto você está brigando, reagindo, enquanto as suas ações nascerem do medo e do ódio – é isso que eu chamo de reação - não tem como colaborar para melhorar a vida, para ressignificar todo esse sistema, então, você se torna um agente destruidor também. Você não concorda com esse sistema, mas faz parte dele, mesmo se você esteja se achando a pessoa mais antissistema do mundo. 

Só o fato de você se achar ‘anti’ já está colaborando para essa miséria que está aí. Não se opor, não significa que você concorde. A questão é que você só pode, de fato, colaborar com a vida através do amor. 

Eu sugiro que você vá atrás dessas partes em você que estão querendo criar separação, que estão criando isolamento. Aqui, por exemplo, - vou tentar pegar só uma parte porque é muito longo o enunciado - está dizendo que você está se tornando sensível e que você tenta construir a sua força através do yoga, das preces, da alimentação correta, do respeito aos seus sensores, da escolha cuidadosa de pessoas e de lugares onde circula, mas quando você volta para os Estados Unidos, que é a sua casa, você não aguenta ficar lá, é tomada pelo medo e pela ansiedade. Talvez não seja lá o seu lugar, se seus sensores estão acusando que existe esse desencaixe tão profundo, por que você insiste tanto? 

O que eu estou querendo dizer com isso é que não existe uma regra. Algumas pessoas estão fugindo do que precisa ser visto, integrado, outras precisam realmente sair daquele lugar que se tornou nocivo e você percebe isso quando o seu corpo começa realmente a adoecer. 

Perceba que estou dando dois exemplos diametralmente opostos. De um lado, a pessoa está adoecendo porque está viajando constantemente e não consegue se inserir no sistema; de outro lado a pessoa está adoecendo porque está morando em um lugar, tem uma rotina, tem uma estabilidade. Em nenhum dos dois casos está havendo um respeito aos comandos do coração. 

Sugiro que você faça a oração: “Que seja feita a vossa vontade! Onde você quer que eu esteja? Onde eu devo estar?”. É o que vai trazer a calmaria, acabar com esse barulho perturbador - que é a ansiedade, que é medo, que é o sentimento de desencaixe. 

Perceba que esses sintomas podem acontecer para uma pessoa que está ali inserida em uma rotina e uma pessoa que está completamente fora, sem rotina nenhuma, porque tanto em um caso, quanto no outro, é uma reação, é o passado que está fazendo as escolhas, tomando as decisões - é a vontade do pequeno eu que está se manifestando, não é a vontade do eu maior. 

Se você pode se distanciar e observar o pequeno eu tomando as decisões, você já começou o processo de libertação. Você já pode perceber: meu pequeno eu está querendo ir para cá, mas onde eu quero ir? Onde quero estar? Esse é o início da libertação da tirania do pequeno eu. 

Se você está apegado ao pequeno eu, se você está submetido aos comandos dele, talvez você sofra um pouquinho para soltar, terá uma fricção aí, às vezes grande, dependendo da dimensão do apego. 

Eu escolhi responder essas perguntas, porque estamos entrando na fase final da temporada e percebo que alguns estão ainda em processos profundos e até sem compreender o porquê de estarem passando pelo que estão passando. Pensam: “Eu vim para a Índia para ser feliz, para ficar com o Baba e poder celebrar o amor. Estou aqui em um aperto lascado, que não consigo nem entender porque estou sofrendo tanto”. 

Óbvio que estou me referindo a alguns, há muitos que já estão podendo compreender. Estou aqui iluminando o processo para que você possa compreender que entrou em um jogo, mas talvez não estivesse conhecendo bem as regras do jogo. Uma das regras é “nada de autoengano”. Outras são: “nenhuma autocomiseração”; “nenhuma piedade com o falso eu”; “nenhuma piedade com a mentira”. Isso pode doer. 

O que estamos fazendo, na forma dos cânticos devocionais, na forma das orações, dos pujas é chamar a verdade e às vezes ela chega incomodando, porque estamos apegados à mentira. 

Se você entrou no jogo, jogue. Você entrou no jogo e até certo ponto consegue sair, mas chega uma hora que não adianta falar: “ah, quero ser café com leite”. Sinto muito, agora não dá mais, agora você tem que ir até acabar o jogo, tem que ter estômago para lidar com a transformação. 

Sincronicamente a mandala de hoje está cheia de sementes, repleta de grãos. Que essas sementes de amor, de sabedoria, de paz, de prosperidade, de saúde, de união possam florescer, possam dar flores e frutos. 

A mandala é construída e ela permanece durante o tempo do discurso, agora vamos desconstruir. Essa é uma prática que nos auxilia lembrar a lei da impermanência. 

Abençoado seja cada um de vocês, que sejamos livres para seguir os comandos do coração. Até um próximo encontro.

NAMASTE